15 de out. de 2008

Sobre o fenômeno da Ufologia ou "Eu quero acreditar em ETs"

Seguem alguns textos da “série” que tenho escrito sobre o tema “Ufologia” e assuntos correlatos.

Nos últimos anos, tenho me envolvido com ufólogos, simpatizantes, eventos, debates e literatura ufológica. Trata-se de um fenômeno social e cultural dos mais interessantes, na minha opinião, cheio de facetas, polêmicas, teorias.

E nos últimos meses, me tornei um comentarista sobre assuntos vinculados ao universo (às vezes bizonho) ufológico, além de contribuir na produção do Conexão Ufo, programa na Rádio Comunitária de Santa Cruz do Sul (FM 105,9), capitaneado por Rafael "Bala" Amorim, também coordenador do Núceo de Estudos Ufológicos de Santa Cruz do Sul, o "famoso" NEUS.

*Exceto o último, os demais textos desta postagem foram publicado no Riovale Jornal, de Santa Cruz do Sul em torno do mês de setembro de 2008.



John Lilly, golfinhos e ETs

Os ufólogos muitas vezes acabam olhando para céu e esquecem da terra – ou, ainda, do mar... Estava lendo esses dias alguns textos sobre um brilhante neurocientista norte-americano, pensador incomum, inovador e, portanto, necessariamente polêmico. John Cunningahm Lilly (1915-2001) pesquisou várias formas de abertura de consciência, como as possibilitadas pela flutuação em cabines de isolamento sensório.

Também pesquisou sobre a inteligência dos golfinhos. Suas afirmações de que “os golfinhos têm uma cultura e que podem pensar como os padrões humanos, tendo uma ética e uma política” causaram revoltas entre religiosos e a ridicularização na imprensa. Nisso nota-se o quanto está arraigado o antropocentrismo, ou seja, a arrogante visão de que o ser humano é o centro de todas as coisas, de todo o planeta e universo, não se admitindo que qualquer outro ser – de que lugar ou espécie – possa ter sequer semelhanças conosco, que dirá algum potencial superior.

Lilly teve muitos seguidores. Um cientista russo, Vladimir Markov, concluiu que o “Idioma Golfinho” seria composto de 51 sons de impulsão e nove tipos de assobios, com uma estruturação tão complexa, que inviabiliza o entendimento de tal linguagem/conceitos pelo cérebro humano, ordinariamente limitado em sua capacidade cognitiva.

Num artigo, Traduzindo golfinhos, sobre a vida e obra de Lilly, Flávio Calazans diz que pesquisas sobre a poderosa inteligência dos golfinhos – entre outros estudos que põe em xeque velhas concepções – “não costumam ser pautadas e divulgadas na mídia internacional por serem chocantes demais para a mentalidade do grande público, e por chocarem-se com dogmas religiosos e políticos vigentes, sendo considerados matéria proibida ou mera curiosidade a ser publicada como assunto exótico ou ridículo, e exposto apenas para escárnio e zombaria.”

Os ufólogos sofrem este descrédito – mesmo aqueles que evitam polemizar com declarações bombásticas sobre a “iminência da chegada de Jesus num disco voador” ou algo do gênero. Mas não é esse o objetivo primeiro do meu insipiente comentário, conforme tentei fazer entender na introdução. O que quero dizer é que somos rodeados de criaturas fantásticas e de potenciais de “contatos imediatos” através de técnicas para além (ou aquém!) de telescópios e outros maquinários.

Os trabalhos de John Lilly são indicadores de universos vastos em nosso interior humano e na consideração de outros seres – caso dos golfinhos – nesta nossa Nave Viva, a Terra. Ao apontarem “luzes estranhas” na abóbada celeste, os ufólogos não deveriam perder de vista os “outros mundos” que vários “psiconautas”, como Lilly, começaram a vislumbrar.

Mais amplamente ainda, acho que tais “revelações”, que questionam nossas formas costumeiras de compreender o mundo, poderiam estar reformulando instituições – escolas, universidades, centros de pesquisas, etc. Entretanto, tais idéias permanecem num limbo, sendo levados adiante por pequenos grupos “alternativos”, “marginais”, sem influência direta em espaços “acadêmicos”, do “saber consagrado”, conservador “por excelência”. Mesmo assim, acredito que, num futuro próximo, os estudos e hipóteses na linha dos de John Lilly são os que nos desviarão da auto-inviabilização enquanto sociedade e raça terráqueas.




Quando os humanos são alienígenas no seu próprio planeta

Vi dias atrás a animação Happy Feet: o Pinguim, produção australiana e americana de 2006. Achei o filme muito interessante em vários aspectos – além de toda a perfeição técnica e das canções (e coreografias) muito bacanas, como aquela do Queen, Somebody to Love. Show à parte.

Dentro da minha linha de reflexões sobre a ufologia, destaco, pelo filme, uma situação que venho tentando abordar: a nossa “dificuldade” de “contato” ou de comunicação não se dá somente em relação aos “extraterrestres”, mas com seres de nossa convivência concreta e cotidiana neste planeta. Caso dos animais e plantas.

No filme, os pingüins concebem os seres humanos como alienígenas "horrorosos". Quando chegam a um vilarejo portuário, na região do Pólo Sul, Antártida (pelo que posso imaginar), um dos membros da "expedição" (de pingüins), para evitar agressões, fala assim: "Nós viemos em paz!" – numa paródia das declarações de “marcianos” quando encontram “terráqueos” em filmes e livros de ficção ufológica de baixa categoria ou humorísticos.

Mano, o pingüim protagonista, não consegue se comunicar com os humanos; ele tenta chamar a atenção para a ação destrutiva desses “ETs” (ou melhor, “EAs” – “Extra-Atártidos”), que estão acabando com a alimentação da nação pingüim.

A cena do aquário é a que achei mais sensacional para apresentar o esforço de comunicação frustrado pela “barreira lingüística”. O discurso desesperado de Mano não é entendido de jeito algum, soando – “obviamente” – como esgares de uma ave que ficou amalucada. E, “surpreendentemente”, o sapateado acaba por ser o meio de "fazer contato" (primeiro com uma criança!). Por essa “via torta", inusitada e inesperada, o pingüim já desesperançado – à beira da falência mental – consegue o almejado meio de comunicação com os “alienígenas". O bater rítmico dos pés – e não a “fala” – é a ponte entre o “mundo pingüim” e o “mundo humano”...

Quem sabe não esteja aí uma dica de como se pode fazer o contato?! (Lembrando que também o filme de Steaven Spielberg, Contatos Imediatos de Terceiro Grau, de 1977, onde a troca de frases musicais indica que está havendo uma compreensão mútua. Demonstra-se que há o reconhecimento da existência uns dos outro, homens e aliens, pela troca de emissões sonoras.)

Talvez não sejam palavras ou outra linguagem desenvolvida por povos humanos o meio de interagirmos com outros seres – desse e de outros planetas ou dimensões. Precisamos estar muito abertos e plenamente conscientes de todas as nossas limitações biológicas, cerebrais, intelectuais e culturais para compreender algo completamente “desassemelhado” a nós mesmos. Nossa “solidão” – às vezes confundida com supremacia – pode ser somente uma incapacidade de entendermos/compreendermos o “outro”. (E isso, aliás, é uma fonte constante de desentendimentos interpessoais e entre grupos humanos.)

Mesmo “filmes de crianças” podem nos trazer reflexões bem sérias sobre “questões ufológicas” e, no caso, sobre o autismo da nação humana sobre a Terra, que, aliás – como denuncia Happy Feet –, está pondo em perigo esta miraculosa nave.




O pensamento e o imaginário de H. G. Wells (1ª parte)

H. G. Wells, ou melhor, Herbert George Wells, inglês nascido em 1866, faleceu em 1946, logo depois das primeiras explosões da bomba atômica no Japão. Dizem que morreu muito pessimista – depressivo, até –, depois de um tempo de euforia e confiança na civilização e ciência ocidentais.

Podemos considerá-lo um dos “pais” da ficção científica e do imaginário dos ufólogos e futuristas até hoje. Suas obras, como A Guerra dos Mundos, continuam rendendo visões que são “referências obrigatórias” em filmes contemporâneos tratando de alienígenas, viagens espaciais, viagens no tempo e outras incursões que se usam da imaginação para tentar retratar o vasto e enigmático desconhecido.

Eu li, não faz muito, justamente o A Guerra dos Mundos, e também A Máquina do Tempo e A Ilha do Dr. Moreau. Livros que a gente devora numa sentada. São muito atrativos e surpreendem, como já disse, pelas imagens que foram concebidas ainda no século XIX. A Guerra dos Mundos, novamente adaptado para o cinema, agora pelo afamado Steven Spielberg, foi originalmente publicado em 1898, ou seja, dez anos após a “Abolição da Escravatura” no Brasil. No entanto, suas concepções e reflexões sobre viagens espaciais, exobiologia, sociologia e futurismo são espantosos – se mantém, em muitos pontos, atualíssimos e insuperáveis.

Quando Wells fala, por exemplo, que a tecnologia desenvolvida pelos marcianos prescinde da roda, dando aos mecanismos desses “ETs” uma performance que se confunde com animais orgânicos (“a máquina de manipular [os discos que se moviam sobre cinco ‘pernas’ mecânicas] não me pareceu uma máquina, mas uma criatura aparentada ao caranguejo”, conforme está na tradução do seu romance publicado em 2000 pela Editora Nova Alexandria, traduzida do Inglês para o Português Brasileiro por Marcos Bagno), tal elucubração é fantástica de boa! E assim se sucedem “sacadas” que estão em diversas produções cinematográficas e literárias – do filme Matrix , passando pelos oito volumes (parei no quarto) de Operação Cavalo de Tróia, de J.J. Benitez (em especial em relação ao A Máquina do Tempo), até a série infanto-juvenil de Philip Pullman, Fronteiras do Universo (donde veio o filme A Bússola de Ouro, primeiro de uma trilogia adaptada dos excelentes livros).



O pensamento e o imaginário de H. G. Wells (final)

A ufologia e seu imaginário devem muito a H. G. Wells. A possível fisiologia e fenótipos de seres alienígenas, plantas; designs de máquinas, ferramentas, aparelhos de comunicação, armas, etc., estão lá no vetusto A Guerra dos Mundos. Sem falar nos termos, como “extraterrestres” e “vigília”, que são largamente usados em publicações especializadas da atualidade, caso da revista brasileira Ufo. O disco voador, “uma coisa parecida com uma tampa de panela”, como é dito na página 53 da tradução para o Português de Marcos Bagno (Editora Nova Alexandria, 2000), tem tudo a ver com a imagem de veículo interplanetário criada pelo escritor.

Os próprios foguetes-cilindros, lançados por “canhões potentíssimos”, são mais do que engenhosidades ficcionais: são ainda a base tecnológica da propulsão dos foguetes americanos, russos, chineses, brasileiros e outros – em pleno oitavo ano do século XXI. “Havia uma convicção geral de que, através das profundezas do espaço, não existia vida senão na ínfima superfície de nossa minúscula esfera”, introduz o narrador, com excelente e perene dose de mistério, no romance que este ano fará 110 anos de sua primeira publicação.

Outra faceta de Wells: o de pensador, mescla de analista ou sociólogo, futurólogo, psicólogo de massas, filósofo e reformador social. Ele traz relativizações, como um professor de introdução à antropologia cultural, fazendo considerações sobre com os civilizados tratam de povos considerados “bárbaros” ou mesmo as sociedades animais. Diz-se que era socialista – dentro de um caudal fértil e diversificado de utopias. Visitou a União Soviética, inclusive, nos anos de 1920, logo após a Revolução Bolchevique (ficou decepcionado, depois de algum tempo, com os governos da Rússia comunista).

Preocupado com situações da sociedade da sua época – como as gritantes diferenças sócio-econômicas entre as classes capitalistas e do operariado –, propõe explicações e prevê efeitos no longo prazo escamoteadas em passagens dos livros que mencionamos aqui.

Interessei-me por Wells a partir da leitura de Aldos Huxley – outro escritor e pensador inglês importante –, que cita o conterrâneo em sua obra As Portas da Percepção. Já havia visto o seu nome em muitos lugares, sem que me “dignasse” a lê-lo. Acabei por gostar de seus escritos e admirar as interconexões das suas idéias e poder imaginativo descortinador, fazendo-o um intelectual de influência mundial. Formado em Biologia pela Universidade de Londres – cidade aonde veio a falecer, e cenário principal dos dois primeiros romances mencionados aqui – H. G. contribuiu, como Júlio Verne e vários outros ficcionistas engenhosos, para compreendermos, com as vertigens da especulação, a vida humana, seus abismos e possibilidades transcendentes.




O cobiçado aroma vegetal e os homenzinhos acinzentados

Numa entrevista, em 1998, para o site Não (http://www.nao-til.com.br/nao-56/entrev.htm), Eduardo Bueno, jornalista e autor da série Terra Brasilis, fez a seguinte declaração: “(...) uma energia tão forte, como aquela dos lamas do Tibet, porque vocês sabem que a terra só não é invadida pelos extraterrenos porque, quando os tibetanos meditam enviam uma energia tão grande que este campo de força os impedem de entrar na terra. Porque os extraterrestres estão atrás do aroma vegetal que é uma coisa raríssima no universo, só tem na Terra, então vêm os seres extraterrestres do mal (...) super-afim de se apoderar da Terra.”

Evidente que essa fala do alcunhado Peninha, jornalista, comentarista cultural, vegetariano militante e ligado em esoterismos, introdutor dos escritores beats no Brasil (foi ele quem traduziu, no começo dos anos de 1980, o clássico On The Road, do referencial escritor norte-americano Jack Kerouac), enfim, a afirmação deve ser lida no contexto de uma longa e quase tresloucada conversa com seus amigos-entrevistadores de Porto Alegre (RS). Mas me pareceu ter um sentido, um potencial, um “fundamento” dos mais interessantes: “o aroma vegetal que é uma coisa raríssima no universo”.

Derivando, poderíamos dizer que – não “apenas” o aroma – os próprios Seres Vegetais são algo raríssimo no universo.

E que tipo de relação, nós, animais humanos, estabelecemos com estes outros seres aqui mesmo no planeta Terra? Se já nos achamos os senhores entre os animais, em relação aos vegetais – que estão ainda mais longe, aparentemente, da estrutura física e outras “características” humanas (não têm olhos, boca, cérebro – como os têm os porcos, o gado, os cães, as galinhas, coelhos, os aracnídeos, etc. –; nem têm uma locomoção mais autônoma, por exemplo, fugindo do perigo, além de, em muitos casos, “verbalizarem” dores, contentamentos, entre outras manifestações tão flagrantemente similares a dos “bípedes com o polegar opositor”, como é definido o Homem naquele curta-metragem Ilha das Flores, de outro gaúcho, o cineasta Jorge Furtado) –, em relação aos vegetais, repetindo, estamos “cagando solenemente”, pra usar uma expressão bem grosseira – que talvez seja mesmo a forma (isto é, grosseiramente) que tratamos uma infinidade de seres que nos rodeiam e, em última instância, nos dão a vida – sem plantas, não teríamos a atmosfera adequada para a existência humana, sem falar na alimentação, que direta ou indiretamente, vêm dos vegetais (comer carne é comer plantas de segunda mão, já que todos os carnívoros dependem de animais herbívoros para suprirem-se de uma energia, que, mais distante ainda, provem do Sol).

Creio que vegetais têm inteligência e, provavelmente (ou seja, se poderá provar algum dia; ou até já se demonstrou isso de algum modo), estabelecem formas de comunicação e interação com outros seres. Nós, humanos, em nossa tremenda arrogância (e isso tem muito a ver com as religiões monoteístas-machistas como o cristianismo, judaísmo e islamismo), que nos achamos “o sal da terra”, as coisinhas mais fofas e espertas da Via Láctea (alguns crêem que é do Cosmos – numa manifestação, me perdoem, de uma imbecilidade transgalática), nos fechamos a este vasto universo.

E para puxar o assunto aqui pra roda de uma vez: Também nós, curiosos e estudiosos de Ufologia, voltamo-nos ao céu, especulando sobre a vinda de veículos discóides com propulsão atômica, pilotados por “homenzinhos” (olha aí o antropocentrismo sempre a moldar nossos modelos de “seres inteligentes”) acinzentados.

Para ir ainda mais direto ao ponto: Suspeito seriamente que as plantas já estabelecem contatos com “seres” extraterrestres há milhões ou bilhões de anos através da recepção da luz (do Sol, por exemplo) e emanações de outras estrelas e planetas, além de outras freqüências cósmicas.
Nós, na nossa patetice travestida de inteligência, não nos damos conta de nada disso e continuamos em vigílias infrutíferas – que, não tenho dúvidas, são um momento bacana, de integração, de compartilhamento, mas, lá no campo, perto de bosques e montanhas, ao mirar a vasta escuridão pontilhada de luzes misteriosas, esquecemos do igual profundo enigma das criaturas ali ao nosso lado, às vezes, em baixo, literalmente, dos nossos pés – gramíneas e outras ervas humildes, das quais nem sabemos a designação, que se curvam sob nosso peso, aceitando tanta ignorância e desconsideração...

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