21 de fev. de 2009

Carmen e os nazis no Brasil de Getúlio



Ruy Castro, jornalista e escritor, em entrevista publicada em Zero Hora no dia 9 de fevereiro passado (2009) falando sobre o seu livro Carmen: Uma Biografia, tratando da cantora e atriz brasileira Carmen Miranda [ilustração ao lado], diz o seguinte, respondendo sobre a acusação de “americanização” que pesava sobre a “pequena notável” após sua instalação em Hollywood, tornando-se uma beldade de fama internacional:

“O verdadeiro público da Carmen nunca a chamou de ‘americanizada’ nem isso era um pecado na época – em 1940, os EUA eram os heróis do mundo. Quem não gostou de ouvi-la falando ‘Hello, peoples!’ foi a platéia do Cassino da Urca [no Rio de Janeiro] naquela noite em que Carmen tinha aceitado dar um show beneficente a pedido da primeira-dama, dona Darcy Vargas. Essa platéia era formada pelos membros da ditadura Getulio Vargas, totalmente simpática ao nazismo [não excluindo o próprio mandatário do país] naquele tempo: os ministros, os militares, os empresários alemães e seus sócios brasileiros.”

Essa fala de Castro me fez lembrar – e reiteradamente lembro disto – o discurso de auto-vitimização que vulgarmente observamos por parte de uma intelectualidade germanófila na cidade e região. O governo Vargas e a figura deste político gaúcho são satanizadas como “anti-alemães”, “esquecendo-se” que, na verdade, antes de uma tomada de posição – tardia, até – pró-aliados na Segunda Guerra Mundial, o alinhamento com o totalitarismo alemão liderado por Adolf Hitler foi grande e, em conseqüência, houve, sim, apoio a posturas fascistóides, culto ao arianismo e quejandos. A extradição de Olga Benário é um exemplo do colaboracionismo oficial com o governo e a ideologia nazi.

E também se subtrai o contexto de uma guerra onde a Alemanha encarnava o terror, a crueldade e a arrogância sobre forma de ação bélica violentíssima, imperialista, pretendendo “simplesmente” dominar o mundo em nome da suposta superioridade racial do seus cidadãos – que, na época, massivamente respaldava o governo do “fuhrer”.

Claro que se deve reconhecer: no acirramento da antipatia contra uma Alemanha invadindo países, torpedeando navios brasileiros, notícias sobre extermínios em escala industrial etc., houve manifestações e posturas que exacerbaram e foram injustas, despropositais, pura desforra irracional. Mas que devem ser contextualizadas: o clima era de revolta contra os alemães e, assim, contra tudo que se ligasse a nacionalidade e etnia germânica no Brasil naqueles momentos de emoções incontidas, tal os barbarismos anunciados.

Darcy: intelecto, coração e ação


Faz “o” tempão que não escrevo aqui no grupo. Estava sentindo falta de encher os tubos (ou as caixas) de vocês! Fiquei desconectado por problemas aqui no meu PC. Obriguei-me a deletar as mensagens passadas para desatravancar as coisas aqui na minha máquina temperamental, velha e encarquilhada. Imagino que os ânimos devem ter baixado, já que sou um “elemento” que insiste em dar socos no ar e “responder” as diatribes do Xandu.

A novidade é que troquei as mulheres (por enquanto...) por um homem. To falando dos meus “estudos”! A última “musa” foi a Ana Miranda, de quem, aliás, li, na semana passada (Correio Caros Amigos), uma crônica sobre matrimônio, dizendo que para os professadores da religião judaica não existe o “até que a morte os separe”. Mas troquei a Ana pelo Darcy Ribeiro [ilustração acima], antropólogo, educador, político e escritor. Estou encantado! Apenas havia lido coisas esparsas e, pela primeira vez, tento lê-lo com mais dedicação, começando com o Confissões, livro de memória – onde cada capítulo tem uma ilustração minimalista do gênio Oscar Niemeyer) que ele escreveu pouco antes de morrer. (Li boa parte do Diários Índios, que já mencionei aqui, onde Ribeiro reproduz suas anotações de campo enquanto conviveu com os Kaapor.) É muito bom, porque aborda a sua obra de cientista social e literato pelos bastidores, pelos fundos. Fala desbragadamente da sua vida de intelectual e político brasileiro. O cara teve uma vida intensa, onde não faltaram a paixão pelas mulheres e pelas pessoas no geral, em destaque os brasileiro. Estudou em profundidade os povos aborígenes. Conviveu diretamente com as personalidades mais proeminentes do seu tempo no Brasil e no mundo, como Jango e JK, Che e Kennedy, Pablo Neruda e Salvador Allende. Foi ministro da educação, chefe da casa civil, secretário da cultura; fundou a UnB, o Museu do Índio e conheceu o Brasil como poucos, e o mundo em suas inúmeras viagens, tendo morado no Peru, na Venezuela; conheceu a URSS, Cuba e todos os principais países da Europa. Na ditadura, foi preso e viveu no exílio, começando pelo Uruguai. Suas narrações são ricas sobre este período pré/pós-golpe e muitas coisas ficam mais claras.

Já estou adiantado num romance dele, o Maíra, e lendo partes da sua obra derradeira de cientista social, o O povo brasileiro. Quando der, quer transcrever uma partes deste livro pra vocês (para quem se dispor a ler).

*Enviado em novembro de 2005 para uma lista de debates de amigos (Bolori Groups). Neste período, li fragmentos de outros livros e materiais, vi entrevistas e conversei com algumas pessoas sobre esse importante intelectual engajado. Um exemplo de existência humana mergulhada na mundanidade elevada por um amor à vida.


**No blog luiscarlosgusmao.blogspot.com fico sabendo que a "Mangueira promete dar a volta por cima fazendo uma homenagem ao povo brasileiro em 2009. Para isso, a verde-e-rosa levará para a Avenida o enredo 'A Mangueira traz os brasis do Brasil mostrando a formação do povo brasileiro', inspirado no livro 'O Povo Brasileiro, a formação e o sentido do Brasil', do montes-clarense [MG] antropólogo Darcy Ribeiro."


***Do mesmo blog, retirei a ilustração e a seguinte declaração de Darcy, feita na Sorbbone :


"Sou um homem de causas. Vivi sempre pregando, lutando, como um cruzado, pelas causas que comovem. Elas são muitas demais: a salvação dos índios, a escolarização das crianças, a reforma agrária, o socialismo em liberdade, a universidade necessária. Na verdade somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isso não importa. Horrível seria ter ficado ao lado dos que me venceram nessas batalhas."

15 de fev. de 2009

Moto Nonsense - Esta Mia Rider faz "a" galhofa em Santa Cruz do Sul











"Parece um monte de lixo, mas o pessoal se impressiona quando vê que isto aí anda..."

No sábado (dezembro de 2008) veio uma trupe muito do legal no encontro de motoqueiros, que armaram o barraco aqui em Santa Cruz, na praça, ali na frente da Catedral. "Esta Mia Rider", que, segundo disseram, no dialeto ítalo-brasileiro das bandas de Garibaldi significa algo como "Não Ria".

Típicos gringos loucos, à la Feline com Monty Python, vêm com motos, carros montados em galpão, enferrujados, com arames, lata de ervilha, barril, pedaço de carrinho de mão, eixo de carroça, banco de trator, corda, caveira de boi, penico, engrenagem de batedeira, pedaço de revólver... um escambau! Juro que, quando vi aqueles troços, pensei que eram "de enfeite" - pra botar em algum jardim excêntrico -, montadas com peças de ferro velho e outros cacaredos. Mas as coisas andam e, na verdade, por de trás daquela rusticidade maluca, híbrida, anárquica, há muito engenho mecânico e galhofagem com cultura pop.

Nonsense total, bicho! Uma das coisas mais estranhas e hilárias era um dos "veículos" que arrastava por uma corda, bem atrás, um tosco caixão fúnebre de madeira, com um velho dentro, que abria a tampa e abanava para o público. O caixão ia arrastando direto no chão. Tão absurdo! Era impossível não rir. Os caras todos fantasiados. Um deles parecia algo como um soldado nazi-crazy, que me lembrou um dos bonecos clones experimentais que aparecem no Blade Runner.

A gringalhada é toda não-profissional, amadores, trabalham durante a semana e fim de semana se divertem numa sátira sem muito enredo.

Havia também uma máquina, feito com um motor do tipo tobata, muito antigo, cuja função era cozinhar ovo de codorna e mover os espetos de uma churrasqueira, cheia de detalhes estramból(t)icos, como um pênis enorme que ficava se movendo à frente, simulando a introdução em algum orifício... Hahaha!!!

Bah! Senti até inveja de não participar em alguma empreitada palhaça dessas! Nós em casa olhando TV... Putz!

As fotinhos que vi nos jornais não fazem juz a bacanisse das máquinas dos caras. Aqueles trecos construídos numa oficina de fundo de casa, onde a fuligem e barro fazem parte da "estética-sucata" simplesmente ofuscavam motonas que deve custar 200 mil reais ou mais. E os caras pareciam se divertir pra valer!!

O "comandante da turma" (viajam num ônibus Scânia velhare), Maurício Agostini, disse pra Gazeta: “Nós viemos para brincar, as motos são feitas para isso. Parece um monte de lixo, mas o pessoal se impressiona quando vê que isto aí anda. É a nossa criatividade.”

*As fotinhos acima eu tirei de http://www.forumnow.com.br/vip/mensagens.asp?forum=94106&grupo=191948&topico=2957839&pag=7&v=1

8 de fev. de 2009

A besta do orgulho étnico


Num artigo do professor do programa de pós-graduação em História da PUCRS, Flávio M. Heinz, publicado no caderno Cultura (jornal Zero Hora de 15 de novembro de 2008), tomo conhecimento de um “detalhe” que achei dos mais interessante, significativo e bizarro ao mesmo tempo: Numa localidade da França, na floresta de Compiègne, próximo a Paris há uma pedra comemorativa ao armistício da Primeira Guerra Mundial onde se lê – em enormes letras metálicas deitadas sobre uma portentosa laje (conforme posso ver numa foto que está junto ao texto referido) – o seguinte, na tradução do próprio estudioso:

“Aqui sucumbiu, no dia 11 de novembro de 1918, o criminoso orgulho do império alemão, vencido pelos povos livres que ele tentava escravizar.”

Claro que se trata daquela grandiloqüência agressiva de vencedor vingado, manifestando e, ao mesmo tempo, alimentando ressentimentos, conforme argumenta o professor Heinz. Não por acaso Hitler, na capitulação francesa em junho de 1940, no contexto da Segunda Guerra Mundial, num ato de revanchismo talvez até mais assoberbado (ou abobado...), leva a inscrição metálica – além de um vagão que fazia parte do monumento francês – para Berlin, expondo-o na frente do Porta de Brandemburgo. Ostensiva demonstração de força e zombaria sarcástica, humilhando os franceses. Estava exposto lá para que toda Alemanha pudesse ver que o “orgulho alemão”, enfim, havia sido recuperado – e até ainda mais ampliado pelo “Führer” Adolf.

Mas o que a inscrição me trouxe mais prontamente à cabeça foram às possibilidades funestas que percebo quase todas às vezes quando ouço/leio/vejo laivos de uma certa germanofilia exaltada aqui nos nossos rincões. Mesmo que risíveis em suas fragilidades de base e repercussão, manifestações pela “preservação das raízes”, propondo implicitamente uma “diferença superior” a ser defendida, acaba por servir de chocadeira ao Ovo da Serpente, ou seja, aquele sentimento que não raro desencadeia a xenofobia, o racismo e a marginalização de outros grupos com outros referenciais étnico-raciais.

Está mais do que na hora de pensarmos Santa Cruz do Sul como um conjunto intercabiante e plural de pessoas com inúmeros referenciais socioculturais. Acho que alegações que caem em noções de "purismos" é algo - uma espécie de besta horrível e mal-cheirososa - a se alimentar de frustrações variadas, vazio existencial e indigência intelectual.
*Ilustração: Nazi Storm Troopers' training class1938 por Margaret Bourke-White -http://www.masters-of-photography.com/ (Esse site tem coisa muito boa!)

Poemas animados no YouTube - Whitman recita!


Numa daquelas “sortes” no mundo quase infinito de arquivos da internet, fiz um achado – embora vários já possam ter deparado e usufruído – que me deixou muito contente. Os “Poem Animation Movie”. O artista Jim Clark London criou uma série de animações com poemas clássicos; são recitados pelos próprios autores, como Walt Whitman, Emily Dickinson, Charles Baudelaire etc. A partir de uma foto, ele dá movimentos à face e outros elementos, fazendo com que se pareça uma antiga gravação, filmada, com voz e efeitos sonoros que reproduzem uma atmosfera de época. Muito interessante, mesmo. E as “dublagens” me pareceram primorosas, muito bonitas; também parecem querer reproduzir a voz, a entonação, as pausas etc. dos/as poetas. Mesmo para quem – como eu – manja muito pouco de inglês ou francês (tem ao menos um poema em espanhol, de Lorca, e um outro em italiano), é algo muito do bacana ouvir e ver os vídeos, acompanhando o fluir das palavras. Para quem gosta de poesia, pode ser algo emocionante e que coloca o poema num outro patamar: entra no mundo do vídeo.

Em cada vídeo, há informações sobre o poeta e o poema num box ao lado, conforme o layout característico do site YouTube. Também dá também para acompanhar a narração lendo o poema reproduzido nessa caixa.

Para quem gosta de poesia, pode ser algo emocionante e que coloca o poema num outro patamar: entra no mundo do vídeo, da multimídia e das interações permitidas pela babilônica internet.

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*Segue abaixo algumas informações que estão nessa sessão do YouTube:


Poem Animation Movie

Poetryanimations

(...) Virtual Animated movies of great poets reincarnated through the wonders of computer animation reading their best loved poems and presented in the style of old scratchy movies (...).

Por Jim Clark London - videographer sound recordist photographer archivist of acoustic musicians and poets computer animator and poet.


**Alguns links:


Walt Whitman "O Captain! My Captain!" Poem Animation Movie


http://br.youtube.com/watch?v=vJ1MWYAJbWs

Emily Dickinson "Because I could not stop for death" Poem


http://br.youtube.com/watch?v=COxdI35Zw44&feature=related

Edgar Allan Poe "The Raven" Poem Animation Movie


http://br.youtube.com/watch?v=4p99rf63jCE

Charles Baudelaire "Le Jet d'eau" French Poem Animation


http://br.youtube.com/watch?v=_XoTZ2gfT-s&feature=channel

Arthur Rimbaud "Ophélie" French Poem Animation


http://br.youtube.com/watch?v=db1gctCmkXU&feature=channel

John Keats 'Ode on a Grecian Urn' Poem Animation Movie


http://br.youtube.com/watch?v=rE-6gS8s-D8&NR=1

Oscar Wilde "The Ballad of Reading Gaol" Poem Animation


http://br.youtube.com/watch?v=j9icnW5qD3U&feature=related

James Joyce "Anna Livia Plurabelle" Poem Animation Movie


http://br.youtube.com/watch?v=TUS7HgyouSI&feature=related

William Shakespeare "Fear no more the heat o' the sun" Movie


http://br.youtube.com/watch?v=XkjwDuG7-Bk&feature=related

William Carlos Williams "Spring and All " Poem Animation


http://br.youtube.com/watch?v=iOcSn0faYIQ

Lord Byron "She Walks in Beauty" Poem Animation movie"


http://br.youtube.com/watch?v=mG81KDGprmo&feature=related

William Blake "The Garden of Love" Poem Animation Movie


http://br.youtube.com/watch?v=-D4oqnBXN1c&feature=related


***Para ilustrar as informações que se pode acessar ao lado do vídeo, coloco o que vem junto com o poema “The Garden of Love”, de William Blak:.


Herers a virtual movie of the great William Blake reading his much loved poem "The Garden of Love"

William Blake (November 28, 1757 - August 12, 1827) was an English poet, painter, and printmaker. Largely unrecognized during his lifetime, Blake's work is now considered seminal in the history of both poetry and the visual arts.

The poem is read superbly by Sir Ralph Richardson....

Kind Regards

All rights are reseserved on this video recording copyright Jim Clark 2008


The Garden of Love

I went to the Garden of Love,
And saw what I never had seen;
A Chapel was built in the midst,
Where I used to play on the green.
And the gates of this Chapel were shut,
And 'Thou shalt not' writ over the door;
So I turned to the Garden of Love
That so many sweet flowers bore.
And I saw it was filled with graves,
And tombstones where flowers should be;
And priests in black gowns were walking their rounds,
And binding with briars my joys and desires.