8 de fev. de 2009

A besta do orgulho étnico


Num artigo do professor do programa de pós-graduação em História da PUCRS, Flávio M. Heinz, publicado no caderno Cultura (jornal Zero Hora de 15 de novembro de 2008), tomo conhecimento de um “detalhe” que achei dos mais interessante, significativo e bizarro ao mesmo tempo: Numa localidade da França, na floresta de Compiègne, próximo a Paris há uma pedra comemorativa ao armistício da Primeira Guerra Mundial onde se lê – em enormes letras metálicas deitadas sobre uma portentosa laje (conforme posso ver numa foto que está junto ao texto referido) – o seguinte, na tradução do próprio estudioso:

“Aqui sucumbiu, no dia 11 de novembro de 1918, o criminoso orgulho do império alemão, vencido pelos povos livres que ele tentava escravizar.”

Claro que se trata daquela grandiloqüência agressiva de vencedor vingado, manifestando e, ao mesmo tempo, alimentando ressentimentos, conforme argumenta o professor Heinz. Não por acaso Hitler, na capitulação francesa em junho de 1940, no contexto da Segunda Guerra Mundial, num ato de revanchismo talvez até mais assoberbado (ou abobado...), leva a inscrição metálica – além de um vagão que fazia parte do monumento francês – para Berlin, expondo-o na frente do Porta de Brandemburgo. Ostensiva demonstração de força e zombaria sarcástica, humilhando os franceses. Estava exposto lá para que toda Alemanha pudesse ver que o “orgulho alemão”, enfim, havia sido recuperado – e até ainda mais ampliado pelo “Führer” Adolf.

Mas o que a inscrição me trouxe mais prontamente à cabeça foram às possibilidades funestas que percebo quase todas às vezes quando ouço/leio/vejo laivos de uma certa germanofilia exaltada aqui nos nossos rincões. Mesmo que risíveis em suas fragilidades de base e repercussão, manifestações pela “preservação das raízes”, propondo implicitamente uma “diferença superior” a ser defendida, acaba por servir de chocadeira ao Ovo da Serpente, ou seja, aquele sentimento que não raro desencadeia a xenofobia, o racismo e a marginalização de outros grupos com outros referenciais étnico-raciais.

Está mais do que na hora de pensarmos Santa Cruz do Sul como um conjunto intercabiante e plural de pessoas com inúmeros referenciais socioculturais. Acho que alegações que caem em noções de "purismos" é algo - uma espécie de besta horrível e mal-cheirososa - a se alimentar de frustrações variadas, vazio existencial e indigência intelectual.
*Ilustração: Nazi Storm Troopers' training class1938 por Margaret Bourke-White -http://www.masters-of-photography.com/ (Esse site tem coisa muito boa!)

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