28 de mar. de 2009

O poeta profeta perversor Willian Blake



Estou relendo uns poemas do William Blake (morreu em 1827, em Londres). Tem um famoso dele, chamado "Proverbs of Hell". Olha uns versos/provérbios que "selecionei":

A Prudência é uma rica, feia e velha donzela cortejada pela Impotência.

Aquele que deseja e não age engendra a peste.

O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria.

Conduz teu carro e teu arado sobre a ossada dos mortos.


Etc. É dele também aquela famosa passagem:

Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo se mostraria tal como é, infinito.

Pois o homem encerrou-se em si mesmo, a ponto de ver tudo pelas estreitas fendas de sua caverna.

Isso está no A Memorable Fancy, traduzido como Uma Visão Memorável - na versão que eu tenho aqui. Dessa passagem deriva-se o livro de Aldous Huxley e a banda The Doors (foto acima).

Num outro texto, com o mesmo título, Blake diz:

[...] me encontrei sentado numa agradável ribanceira de um um rio ao luar, ouvindo um harpista, que cantava ao som da harpa; & o tema era: "O homem que nunca muda de opinião é como água estagnada, & engendra répteis na mente".

15 de mar. de 2009

"A verdadeira vida suava e sofria, desarrumada e suja"


Sobre um assunto em pauta na lista...

Essas coisas me remeteram, meio enviesadamente, a um trecho de uma crônica já antiga do Augusto Meyer, que li hoje de manhã. Ele está lembrando a sua vida de adolescente na Porto Alegre dos anos de 1910/1920. Ao falar sobre a prostituição, que acontecia (quase sempre discreta e dissimuladamente) em casas na vizinhanças da Praça da Matriz, em Porto Alegre, ainda sem o monumento a Júlio de Castilhos e a igreja em estilo romano, Mayer entra numa reflexão sobre as aparências da "sociedade idealizada" ou da "boa sociedade" passada aos jovens e o que ele observava:

"Mas toda aquela ordem composta parecia-me às vezez um cenário armado em palco e sobreposto a uma inquietação de bastidores, onde a verdadeira vida suava e sofria, desarrumada e suja."

Segue: "Aquela, sim, era uma lição de coisas que não cabia nos compêndios, mas entrava pelos olhos, convidando a meditar longamente sobre as duras contradições entre o lido e o vivido, entre a versão ad usum Delphini* que os educadores propõe à nossa ingenuidade, com catecismo e o ensino cívico, e o texto integral, cheio de borrões e emendas, com muitas lacunas de conteúdo e forma, de vez em quando enormes solecismos**."


*Uma definição da expressão AD USUM DELPHINI, que achei via Google no site da Universidade Nova de Lisboa: Designação dada às edições de autores clássicos que o duque de Montasieur mandou fazer com intuito didáctico, “para uso do delfim”, o príncipe herdeiro. Estas edições eram censuradas, omitindo os passos licenciosos ou que pudessem constituir atentados ao pudor. Hoje aplica-se o termo a qualquer edição que, por ter fins didácticos específicos, procede a uma correcção ou censura arbitrária do original. Aconteceu isso com Os Lusíadas, de Luís de Camões, desde a edição de Abílio César Borges, que suprimiu muitos versos, à de Otoniel Mota, que omite estrofes inteiras. Hoje pode-se utilizar também a expressão quando “adaptamos” algum texto para uso pessoal ou privado. (Por Carlos Ceia)

**"Solecismos são erros [gramaticais] que atentam contra as normas de concordância, de regência ou de colocação."
***"Augusto Meyer, poeta e ensaísta, nasceu em Porto Alegre, RS, em 24 de janeiro de 1902 e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 10 de julho de 1970."

A Medusa que valsa em Santa Cruz do Sul: romance de Valesca em terceira edição – pra ninguém deixar de ler



Anos atrás, quando li pela primeira vez o A Valsa da Medusa, lá por 2001, da Valesca de Assis, fiquei tão impressionado que desatei a anotar passagens. O romance saiu originalmente em 1989 – uma estréia de uma escritora já madura e habilidosa, como comenta Antonio Hohlfeldt na apresentação da obra.

Mas além de todo o clima produzido pelo desenrolar da história (ou das histórias), estava a me “causar espécie” o contexto da narrativa toda: tratava-se de Santa Cruz do Sul nos primórdios da colonização germânica na região, ou seja, os anos 50 do século XIX – quando, por Rio Pardo, passando pelo Faxinal do João Faria, adentrando por picadas nos loteamentos rurais mandados construir e bancados pelo governo provincial, assentavam-se gente humilde vindas de uma fria e convulsionada Europa, dentro de um projeto que ao mesmo tempo podia aliviar tensões sociais no “Velho Continente” e levar adiante uma política de ocupação e desenvolvimento do território brasileiro baseado na mão de obra “branca”, tida, na concepção racista em vigor (e ainda ecoando, infelizmente), como “salvadora do país”...

E um “detalhe” fundamental no romance de Valesca que me interessou intensamente: Não se tratava de uma apologia simplista do “loiro imigrante” e da “bravura alemã”, como cantado no hino santa-cruzense, marginalizando e estripando um processo social e histórico cheio de desdobramentos e vinculações. Não era uma “babação de ovo” de uma figura mitificada, “o colono”, como seguido caem até mesmo historiadores e outros intelectuais formadores de opinião. O livro a Valsa da Medusa, então lido sofregamente, humanizava essa gente e incluía mulheres, crianças, adolescente e velhos, além de personalidades fora da saga racistóide costumeira. Havia ali dramas e cotidianos “reais”, e não uma ladainha germanófila – embora demonstrasse a coragem, o risco, o empenho de milhares de pessoas que atravessaram o oceano e se meteram em densas florestas rio-pardenses, buscando aquilo que nos move a todos: FELICIDADE. Sim, ser feliz, em primeiro lugar, e não essa engrolação de “trabalho e progresso”, que só serve para discurso hipócrita e enfadonho de horas cívicas – mas que acabam pautando e justificando privilégios étnicos absurdos, violentadores.

Eu li um volume roto que estava disponível na biblioteca da Unisc. Depois, num balaio, fiz uma daqueles surpreendentes achados: ali estava um exemplar novinho da 1ª edição – que depois, nesses empréstimos que a gente faz, acabou se perdendo (desde que esteja sendo usado e repassado, não me importo). Mas em todas as rodas e conversas que se chega ao assunto de literatura e história local, lá vou eu a puxar a obra da minha amiga querida – uma amizade construída justamente pela minha empolgação pela A Valsa...

Além das anotações, escrevi logo após a primeira leitura um comentário, um pequenino ensaio sobre o livro, adaptado-o para a publicação em sessão de opinião de jornais da cidade. Uma cópia de um dos textos, através de alguém que recortou e levou a Valesca – passando antes pelo também excelente escritor e marido da própria, o Luiz Antonio de Assis Brasil –, fez iniciar um contato que dura até hoje. Que maravilha foi isso – fazer amizade através de um texto!


Agora, neste março de 2009, saiu a terceira edição revisada. Muito boa! Recebi pelo correio da sempre gentil e amorosa Valesca. Fez a punho uma dedicatória bonita e imerecida. Mas que me alegrou muito.

Ninguém que goste de literatura e história deve ficar sem ler A Valsa..., que supera em muito várias obras que prentendem contar a história santa-cruzense. Aqueles que são ligados a Santa Cruz do Sul – como nascidos ou moradores do município, por exemplo –, mais ainda devem se atentar, porque só têm a se enriquecer. Valesca é “filha da terra” e fala “de cadeira”. Nutriu-se de vivências pessoais e conhecimentos diversos, incluindo conversas com o falecido Hardy Martin, entusiasta da historiografia local – mesmo considerando o seu viés e caráter leigo de seu trabalho historiográfico –, fundador do museu e arquivo histórico do Colégio Mauá, além de “Indiana Jones” da arqueologia local, junto com outros pioneiros, como o professor Mentz Ribeiro, fundador do Centro de Pesquisas Arqueológicas (Cepa) da Unisc.

Para falar um pouco mais desta nova edição, uso o que escreveu Leonardo Brasiliense – outro escritor excelente, premiado com o Jabuti em 2007:


“(...) Valesca de Assis retoma seu primeiro livro e nos reapresenta este impressionante A Valsa da Medusa. (...) O cenário é a colônia de Santa Cruz do Sul, no centro da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, na segunda metade do século XIX. E não há como descrever com maior sensibilidade estética os obstáculos, as motivações e os conflitos psicológicos desses imigrantes alemães [entre outros personagens, acrescentaria, fora dessa designação] que o construíram [em conjunto e no contexto amplo da região de Rio Pardo, já ocupada – caso do Faxinal do João Faria, embrião da colônia de Santa Cruz – por outros grupos assentados e itinerantes, inclusive na própria selva – onde havia quilombolas e indígenas – e onde foram abertas as picadas e loteada a área com o trabalho de negros, sob a coordenação de servidores com origens lusas, pagos com recursos estatais]. No meio disso, a paixão inoportuna, impertinente, inadequada, no sentido mais rigoroso de cada um dos termos, entre uma mãe de família e o professor de seus filhos, solteiro. (...) A tensão humana captada (...) golpeando a alma do leitor (...) nesta valsa que provavelmente nunca aprendemos a dançar sem tropeços.”



*REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


A valsa da medusa

Romance

Valesca de Assis

Terceira edição revista

Março de 2009

Editoras Movimento e Edunisc


**BIOGRAFIA

Natural de Santa Cruz do Sul, nasceu em 1945. Residiu em diversas cidades do interior do Estado. Em Porto Alegre, cursou a Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora de História especializada em Ciências da Educação, atuou, por diversas vezes, em atividades culturais.

Dedica-se atualmente à literatura, ministrando oficinas com ênfase no desbloqueio para a escrita criativa, tanto intensivas quanto extensivas.

Estreou como escritora em 1990, com a publicação de A valsa da medusa (Ed. Movimento, 1990, ora em terceira edição em parceria com a Edunisc), obra que recebeu Voto de Congratulações da Câmara de Vereadores de Porto Alegre.

Publicou o romance A colheita dos dias (Movimento, 1992, também em segunda edição), O livro das generosidades - receitas compartilhadas (Artes & Ofícios, 1997), Harmonia das esferas (WS Editor, 2000), PRÊMIO APCA/2000: REVELAÇÃO DE AUTOR (Associação Paulista de Críticos de Artes), Prêmio Especial do Júri da União Brasileira de Escriores (2002) e finalista do Prêmio Açorianos, além de além Todos os meses (AGE, 2002), Prêmio AGES/Livro do Ano/2003, para Crônica, de Diciodiário (Artes & Ofícios, 2005), Prêmio O SUL-Nacional e os Livros 2005, para a coleção GRILOS.

Em 2008 lança Vão pensar que estamos fugindo! - a história de uma viagem quase impossível (Bestiário).

Participou, ainda, de diversas antologias, dentre elas: A cidade de perfil (org. Sérgio Faraco, UE, 1994), Nós, os teuto-gaúchos (org, Luís A. Fischer e Renê Gertz, Ed. UFRGS, 1996), Crônica & Cidade (org. Ivette Brandalise, PMPA-CRL, 1997), Receitas de criar e cozinhar (org. Patrícia Bins e Dileta Silveira Martins, Bertrand Brasil, RJ, 1988), O livro das mulheres (org. Charles Kiefer, Mercado Aberto, 1999), O João Carlos (org. David Coimbra, clicRBS, 2000, Capítulo 8), Meia encarnada, dura de sangue (org. Ruy Carlos Ostermann, Artes&Ofícios, 2001), Contos de Bolso (Casa Verde, 2005), Contos de Bolsa (Casa Verde, 2006), Contos de Algibeira (Casa Verde, 2007) e Antologia de contistas bissextos, org. por Sérgio Faraco (L&PM, 2007).

Foi Membro e Presidente do Conselho Estadual de Cultura.

FONTE: http://www.valescadeassis.com

8 de mar. de 2009

Nome famoso, mas pouco conhecido, Fontoura Xavier era cachoeirense, baudelairiano, tradutor de Shakespeare e viajou o mundo entre os séculos 19 e 20


Me chamou a atenção dias atrás uma reportagem que saiu no Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul. Falava de Fontoura Xavier (o nome completo é Antônio Vicente da Fontoura), nascido e criado aqui do lado, na "Capital Nacional do Arroz" - um dos primeiros povoamentos da região dos Vale do Rio Pardo e Central (estamos falando do Rio Grande do Sul). Achei interessante isso do cara ser - em pleno governo imperial - um republicano contestador, fã de Baudelaire e tradutor de gente como Poe e Shakespeare.

Viveu no Rio Grande do Sul (Cachoeira do Sul e Porto Alegre), em São Paulo, no Rio de Janeiro, nos EUA, na Suíça, na Argentina etc. Ou seja, uma cara que conhecia muita coisa e (literalmente) circulou o mundo na transição dos séculos 19 e 20. E pouco sabemos dele!

Na Wikipédia diz o seguinte:

Antônio Vicente da Fontoura Xavier (Cachoeira do Sul, 1856 — Lisboa, 1922) foi um jornalista, tradutor, poeta e diplomata brasileiro. Sua poesia é parnasiana, e foi fortemente influenciada pela obra de Charles Baudelaire. Entre 1876 e 1877 cursou a faculdade de Direito em São Paulo, mas não chegou a concluí-la. Entre os anos de 1874 e 1891, aproximadamente, colaborou nos periódicos Besouro, Gazeta de Notícias, Repórter e Revista Ilustrada, do Rio de Janeiro. Traduziu poemas de Edgar Allan Poe, Baudelaire, Jean Moréas, Sully Prudhomme e Shakespeare. Foi um dos fundadores, em 1880, do jornal Gazetinha, com Artur de Azevedo e Anibal Falcão. Foi redator do jornal carioca A Semana, em 1883. Em 1884, publicou o livro de poesia Opalas. Em 1887 lançou, no Rio de Janeiro, o panfleto em versos O Régio Saltimbanco, contra a monarquia. Entre 1885 e 1922 serviu como diplomata nos Estados Unidos da América, Suíça, Argentina, Guatemala, Inglaterra, Espanha e Portugal.

Eis a reportagem do jornal cachoeirense:


Jornal do Povo

ANO 80 - Nº 177 - Edição de Sexta-feira, 23 de Janeiro de 2009

LITERATURA

Fontoura Xavier, por Machado de Assis

Mais célebre poeta cachoeirense teve trabalho analisado pelo mestre da literatura brasileira

Em 2006 completaram-se 150 anos do nascimento do mais célebre poeta nascido em Cachoeira do Sul, Antônio Vicente da Fontoura Xavier, ou simplesmente Fontoura Xavier, nome pelo qual ficou conhecido no meio literário. O cachoeirense, que também foi diplomata, é tido como o mais importante baudelairiano (estilo de Baudelaire, escritor francês) dentre os escritores brasileiros e o precursor do parnasianismo no Rio Grande do Sul. O que pouca gente sabe é que entre os críticos do trabalho do poeta já esteve ninguém menos que Machado de Assis, considerado o maior nome da literatura brasileira, autor de clássicos como “Memórias póstumas de Brás Cubas” e “Dom Casmurro” e que mesmo antes de escrever suas obras consagradas já exercia o ofício de crítico literário. A época era a década de 1870, quando o país, ainda um império, vivia a turbulência de uma classe média que crescia nas cidades e desejava maior liberdade e influência na política do país, apoiando fortemente a ideia de uma república, o que já era realidade em vários outros países. Nesse meio estava Fontoura Xavier, que trocou Cachoeira do Sul por Porto Alegre aos 14 anos de idade e que poucos anos depois já estava cursando Direito em São Paulo e publicando suas ideias republicanas e abolicionistas através de colaborações em periódicos da cidade. A crítica de Machado foi baseada em alguns poemas que viu nestes periódicos, mais especialmente na sua primeira publicação individual, o livreto do poema “O régio saltimbanco”, considerado na época polêmico por criticar e satirizar o imperador Dom Pedro II e sua forma de governo. A principal crítica de Machado, em tom de conselho, diz respeito à influência política e social nos seus poemas, tida pelo crítico como exagerada e permeada de discursos e ideologias ultrapassadas. Ainda assim, Xavier é mostrado pelo autor como um talento de sua geração, portador de habilidades com a escrita e de grande ambição literária.

DEFESA - O médico Fernando Dias Campos Neto, 70, sobrinho-bisneto de Fontoura Xavier e que chamou a atenção sobre a crítica, acredita que Machado foi um tanto exagerado nas suas colocações, mostrando-se mesmo alienado do ponto de vista político. “Até porque”, completa, “Dom Pedro II era idolatrado por muitos e havia um certo preconceito sobre as posições socialistas de Xavier na época”. A historiadora Mirian Ritzel lembra que anos antes da proclamação da república, em 1884, Xavier mostrou em sua obra “Opalas” já estar dividindo seu discurso político com poemas mais intimistas e sentimentais e mesmo mostrando seus primeiros traços parnasianos. “No começo talvez estivesse sob efeito da juventude contestadora, mas depois teve contato com novos autores estrangeiros, chegando a traduzir a obra de alguns e deixando-se contaminar com novas ideias e estilos”, aposta.


TRECHO

O régio saltimbanco

Outrora quando um monstro, um César, um bandido,
Sentia o coração de rei prostituído
Pulsa-lhe sob o tédio, armado a gladiador,
Descia ao Coliseu - satânico de horror -
Para embeber sedento a cólera da hiena
No sangue dos plebeus a espadanar na arena.
Franqueava às multidões os pórticos reais
Desfeitas ao clarão das régias bacanais,
E dentre o tumultuar ciclópico do vício
O César engendrara um fogo de artifício.
Essa alma surda à voz do plectro coração
Queria mergulhar em chamas a paixão!
“Ao fogo!”
E em derredor, extático, surpreso,
O mundo via arder uma cidade em peso;
Enquanto descansava o rei nas alvas cãs
Nos braços ébrios, nus, das ébrias barregãs,
Co’a horizontal placidez medonha de um Cerbero!
Festins de Trimalcião e diversões de Nero.
Mas hoje o imperador tem outras ambições
Não desce a digladiar com tigres e leões
Nem arroja o seu nome ao nada, ao vilipêndio
Com Roma ao crepitar o fantástico incêndio...
P’ra dar o nome ao sec’lo, ao povo, a u’a nação
Atira-se a uma praça e sagra-se histrião!
É outro Coliseu: mais vasto, mais fecundo
Tem Roma por cenário e por platéia o mundo.
É mais variada a festa.
A um tempo o imperador
É sábio, poliglota, artista e professor,
Acróbata, truão, frascário, rei e mestre,
D. Juan, Robert, Falstaff e Benoiton eqüestre.
Oh! deve ser imenso, esplêndido o festim
Onde vai exibir-se o célebre arlequim,
Colher, longe da pátria, além, n’outro horizonte.
Mais um florão gentil que orne a heróica fronte.
A Roma meretriz essa imortal galé
Que um deus acorrentara a um poste
Santa - Sé,
Heróico vencedor, colérico, iracundo,
Temendo em saturnais lhe submergisse o mundo
Dir-se-ia que olvidou a prece do cristão
Para entregar-se nua ao novo Trimalcião
Que ouviu novo estertor de servos gladiadores
Na liça triunfal de vis batalhadores
E ergueu-se dos lençóis do papa
Mastaí Bradando à Religião:
“Ao Circo! eu não morri!”
E santo e majestoso e nobre e gigantesco!

Fontoura Xavier


IMPORTANTE

Nem Mirian Ritzel nem a historiadora Ione Carlos tinham conhecimento da crítica de Machado, que junto a outras tantas foi compilada sob o título de “Obras completas” em 1936. No material de pesquisa do Museu Municipal referente a Fontoura Xavier foram encontradas apenas duas menções sobre tal crítica, sem referências. Há também uma menção a uma visita do poeta a Cachoeira do Sul em outubro de 1906, quando o então cônsul-geral do Brasil em Nova Iorque visitou a cidade natal junto ao senador cachoeirense Ramiro Barcelos, ficando Xavier hospedado na casa do irmão, na Rua 7 de Setembro, número 9.


A CRÍTICA DE MACHADO

Integrante do texto “A nova geração”, publicado no periódico Revista Brasileira em dezembro de 1879

“Sinto que não possa dizer muito do Sr. Fontoura Xavier, um dos mais vívidos talentos da geração nova. Salvo um opúsculo, este poeta não tem nenhuma coleção publicada; os versos andam-lhe espalhados por jornais, e os que pude coligir não são muitos; achei-os numa folha acadêmica de S. Paulo, redigida em 1877, por uma plêiade de rapazes de talento, folha republicana, como é o Sr. Fontoura Xavier. Republicano é talvez pouco. O Sr. Fontoura Xavier há de tomar à boa parte uma confissão que lhe faço; creio que seus versos avermelham-se de um tal ou qual jacobinismo; não é impossível que a Convenção lhe desse lugar entre Hebert e Billaut. O citado opúsculo, que se denomina ‘O régio saltimbanco’, confirma o que digo; acrobata, truão, frascário, Benoiton eqüestre, deus de trampolim, tais são os epítetos usados nessa composição. Não são mais moderados os versos avulsos. Se fossem somente verduras da idade, podíamos aguardar que o tempo as amadurecesse; se houvesse aí apenas uma interpretação errônea dos males públicos e do nosso estado social era lícito esperar que a experiência retificasse os conceitos da precipitação. Mas há mais do que tudo isso; para o Sr. Fontoura Xavier há uma questão literária: trata-se de sua própria qualidade de poeta. Não creio que o Sr. Fontoura Xavier, por mais aferro que tenha às idéias políticas que professa, não creio que as anteponha asceticamente às suas ambições literárias. Ele pede a eliminação de todas as coroas, régias ou sacerdotais, mas é implícito que excetua a de poeta, e está disposto a cingi-la. Ora, é justamente desta que se trata. O Sr. Fontoura Xavier, moço de vivo talento, que dispõe de um verso cheio, vigoroso e espontâneo, está arriscando as suas qualidades nativas, com um estilo, que é já a puída ornamentação de certa ordem de discursos do Velho Mundo.Sem abrir mão das opiniões políticas, era mais propício ao seu futuro poético exprimi-las em estilo diferente - tão enérgico, se lhe parecesse, mas diferente. O distinto escritor que lhe prefaciou o opúsculo cita Juvenal, para justificar o tom da sátira, e o próprio poeta nos fala de Roma; mas, francamente, é abusar dos termos. Onde está Roma, isto é, o declínio de um mundo, nesta escassa nação de ontem, sem fisionomia acabada, sem nenhuma influência no século, apenas com um prólogo de história? Para que reproduzir essas velharias enfáticas? Inversamente, cai o Sr. Fontoura Xavier no defeito daquela escola que, em estrofes inflamadas, nos proclamava tão grandes como os Andes - a mais fátua e funesta das rimas. Ni cet excès d’honneur, ni cette indignitè. Não digo ao Sr. Fontoura Xavier que rejeite as suas opiniões políticas, por menos arraigadas que lhas julgue, respeito-as. Digo-lhe que não deixe abafar as qualidades poéticas, que exerça a imaginação, alteie e aprimore o estilo e não empregue o seu belo verso em dar vida nova a metáforas caducas; fique isso aos que não tiverem outro meio de convocar a atenção dos leitores. Não está nesse caso o Sr. Fontoura Xavier. Entre os modernos é ele um dos que melhormente trabalham o alexandrino; creio que às vezes sacrifica a perspicuidade à harmonia, mas não é único nesse defeito, e aliás não é defeito comum nos seus versos, nos poucos versos que me foi dado ler”.

*FONTE: www.jornaldopovo.com.br/2007/noticia_detalhe.php?intIdConteudo=107367%26intIdEdicao=1828
**Ilustração: capa da "REVISTA AMERICANA – Publicação Scientifica, Artistica e Litteraria", deSetembro e Outubro de 1878, onde Fontoura Xavier colaborou, junto com Alberto d’Oliveira; Ezequiel de Macedo; Franklim de Lima; Frederico Severo; José do Patrocínio; Lins d’Albuquerque; Lopes Trovão; Luís Leitão; Luiz Zamith; Mário; Pedro Ivo; Rodolpho Paixão; Theophilo Dias; Urbano Duarte. FONTE: www.assis.unesp.br

7 de mar. de 2009

Está nas bancas: "On The Road - O Manuscrito Original", de Jack Kerouac





"Qual é a sua estrada, homem? – a estrada do místico, a estrada do louco, a estrada do arco-íris, a estrada dos peixes, qualquer estrada... Há sempre uma estrada em qualquer lugar, para qualquer pessoa, em qualquer circunstância."

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Saiu agora pro final de dezembro o ON THE ROAD – O MANUSCRITO ORIGINAL, de Jack Kerouac [na ilustração - divulgação], em tradução de Eduardo Bueno e Lúcia Brito, pela L&PM.

Sou suspeito para falar (que baita clichê isso!), mas deve ser sensacional e estou aguardando com ansiedade poder ler esse negócio.

No comentário de Cláudio Willer sobre o livro-manuscrito, está dito o seguinte:

"Obra que, sendo histórica, fez história, sua leitura é fruição e também participação, gesto político ao atestar sua atualidade. É continuar acreditando que literatura é aventura; e que, assim concebida, pode mudar a vida e transformar o mundo."

Continuando:

"Os beats são um exemplo de crença extrema na literatura, atribuindo-lhe valor mágico, como modelo de vida e fonte de acontecimentos, e não só de textos.

A perspectiva de Kerouac não é aristotélica, não é aquela da literatura como mimese, réplica do real; antes, é mitopoética. Onde o escritor realista supõe a distinção entre dois mundos, o da realidade e aquele da literatura que a descreveria, e o escritor formalista não vê interesse em examinar relações entre o mundo autônomo dos signos e a vida, o escritor visionário confunde os dois planos.

Kerouac viajou para realizar o que estava escrevendo, e o que havia lido: viagens intra e intertextuais. Pegou a estrada para refazer, entre outros, os registros da impossível recuperação do passado de outro prosador-viajante, Thomas Wolfe; a poesia de longo curso de Whitman, poeta itinerante; a prosa de Dostoiévski, com sua religiosidade, sua mística do submundo e, principalmente, sua escrita torrencial; e do francês Louis-Ferdinand Céline, o autor de Voyage au bout de la nuit (algo como ‘viagem ao fim da noite’ ou ‘ao fundo da noite’), que rompeu com o beletrismo francês ao fazer prosa oral e introduzir a língua falada em sua narrativa."


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ON THE ROAD – O MANUSCRITO ORIGINAL Jack KerouacTradução de Eduardo Bueno e Lúcia BritoL&PM, dezembro de 2008 (1ª edição)

Resenha da editora:

Foi em 1947 que Jack Kerouac começou a pensar pela primeira vez no romance que viria a ser On the Road. Nos três anos seguintes, ele cruzou os Estados Unidos na companhia de Neal Cassady e de outros amigos. Essas viagens se tornaram a experiência formadora de Kerouac e o material bruto que seria utilizado na sua mais famosa obra. Nesses três anos, o aspirante a escritor encheu diários e cadernos com anotações e esboços nos quais experimentava possíveis protagonistas e situações ficcionais. Depois de ficar enfeitiçado pelas cartas explosivas, exuberantes e cheias de incentivo que Cassady lhe enviara entre o final de 1950 e o início de 1951, Kerouac finalmente decidiu que a melhor maneira de escrever o romance seria contar a história da sua vida – e contá-la 'como aconteceu'. Durante três semanas do mês de abril de 1951, em um apartamento da rua 20 Oeste de Manhattan, ele trabalhou frenética e incessantemente em sua máquina de escrever, e o resultado foi uma versão que considerou satisfatória. Ela foi datilografada em um só longo parágrafo, com entrelinha simples, em folhas de papel vegetal mais tarde coladas umas às outras, formando um rolo de quase 37 metros de comprimento. Somente em 5 de setembro de 1957 – seis anos e várias versões e correções depois – a editora norte-americana Viking publicou o livro tal qual é conhecido por nós, e tal qual foi traduzido em todo o mundo.

Eis aqui, pela primeiríssima vez, a versão do manuscrito original de 1951 de On the Road. Este texto representa a expressão inicial, em toda sua força, da revolucionária estética de Kerouac, o ponto identificável no qual sua percepção temática e sua voz narrativa se uniram em uma explosão de energia criativa. Esta versão de On the Road é mais crua, mais selvagem e mais sexualmente explícita do que o romance conhecido por todos. Além disso, na versão do manuscrito original, Kerouac apresenta os personagens (inspirados nele próprio e nos seus amigos) com os nomes reais: Neal Cassady, Allen Ginsberg, William S. Burroughs e Jack, o que só reforça o poderoso e íntimo imediatismo do texto.

A edição americana do manuscrito original – que serviu de base a esta edição brasileira – foi editada por Howard Cunnell, estudioso da obra de Kerouac e professor da Universidade de Kingston, na Inglaterra. Este volume traz também quatro ensaios críticos, de Cunnell e de outros três especialistas, que abordam o universo do autor. Cunnell retraça a história do manuscrito e sua transformação em texto publicado; Penny Vlagopoulos coloca o romance em seu contexto político e histórico; George Mouratidis discute a permanente busca pela verdade e pela vida autêntica que está presente no romance; e Joshua Kupetz analisa a técnica narrativa de Kerouac, mostrando como o escritor serviu de ponte entre as sensibilidades literárias americanas da primeira e da segunda metades do século XX.

On the Road: o manuscrito original é sem dúvida um dos mais significativos, celebrados e provocativos documentos da história literária contemporânea.

4 de mar. de 2009

O footing na Imigra

Numa reportagem saída no jornal Zero Hora em 2006 (13/04, p. 60), sobre o centro de Porto Alegre nos anos de 1930, o engenheiro Paulo Ricardo Levacov, de 83 anos, menciona o footing que se dava na antiga Rua da Praia, ou Rua dos Andradas, da capital gaúcha:

“As moças, bem vestidas e com chapéus, desfilavam pelas calçadas, e os rapazes permaneciam parados na rua, olhando para elas.”

E não é como acontece hoje em locais como a “Imigra”, ou Avenida do Imigrante, aqui no centro da cidade de Santa Cruz do Sul?

Óbvio que há elementos diferentes, como o fato de que as moças não necessariamente são as que “desfilam”. Mas, em essência, é isso: moças e rapazes sobem e descem à avenida – aliás, apropriada para isso, com seu passeio central e duas pistas para automóveis, uma de cada lado, a que “sobe” e a que “desce”, tudo arborizado, com bancos, etc. – mostrando-se, olhando-se, analisando-se, flertando e encaminhando, mais tarde ou outro dia, talvez, “ficadas”, namoros e, até – quem não sabe de um caso ao menos? –, casamentos!

Parece se tratar de um atavismo das urbes de todos os tamanhos. Qual cidade não tem seus locais de footing? Nas pequenas, continuam as praças sendo locais comuns do “velho e bom” footing. Em cidades maiores, vemos os shoppings se transformarem em locais desses jogos de convívio e tentativa de sedução.

A palavra deriva do inglês – “passeio a pé” –, mas que tem o sentido de “evento costumeiro transcorrido em locais específicos normalmente a céu aberto onde os participantes são ao mesmo tempo atores e espectadores”.

Mas já ouvi várias vezes usarem a expressão pejorativa “bobódromo” para se referir ao trânsito de pessoas, carros, motos bicicletas (e às vezes até cavalo!) na Imigrante nos finais de semana e feriados. Entrementes, “bobódromo” parece ser dito com aquele amargor advindo de frustrações particulares ou admoestação carola, suponho. Às vezes acho que parte de uma desconsideração quanto a necessidade de haver meios de interação social, em especial para a juventude.

Voltando as características do footing numa Santa Cruz já adentrada no século 21, há ali todo um conjunto de características próprias do mundo e da cultura juvenis contemporâneas. Equalizados alguns conflitos – caso do volume do som abusivo e algazarras que extrapolam horários de descanso nos edifícios e casas residenciais nas proximidades –, não vejo motivos para tolher algo fundamental na sociabilidade ou, mesmo, na “saúde mental coletiva” santa-cruzense.

Concebo que, ao contrário do que alguns insistem, reprimir o footing de adolescentes e jovens na Imigrante é só aumentar as carências e frustrações que levam ao consumo compulsivo de drogas – das legalizadas e das ilegais –, entre outros problemas ainda maiores.


*O professor Deonísio da Silva, na revista Caras, disse sobre o footing:

Footing: do inglês footing, ir a pé, de foot, pé. A palavra, que ainda não sofreu aportuguesamento, entrou para as expressões brasileiras para designar passeio a pé, com o fim de espairecer ou fazer um exercício físico moderado, constituído apenas do caminhar, sem esforço. Antigamente, nas pequenas cidades, o footing tinha um objetivo adicional ou talvez mesmo preferencial: o flerte. As moças saíam a caminhar e eram observadas a distância ou de perto por pretendentes a namorá-las. Por metonímia, a palavra passou a denominar também o lugar onde eram feitas essas caminhadas. O costume foi muito bem sintetizado pelo escritor Moacir Japiassu (65) no livro Carta a Uma Paixão Definitiva (Editora Nova Alexandria): “Havia footing nas pracinhas, as meninas passeavam de braços dados e os meninos olhavam. Risadas, pequenas sem-vergonhices. Passavam-se semanas até que o rapaz dirigisse o primeiro olá à sua eleita. Haroldo demorou oito meses para abordar Julita Cruz. Na noite tão angustiadamente escolhida e esperada, a desejada moderou o passo e o apaixonado disse-lhe, gaguejante: 'Tás passeando?'(...) Talvez em cinco, dez anos, estivessem casados". FONTE: www.caras.com.br

1 de mar. de 2009

Jan Val Ellam e Os Miseráveis


Na linha da Hipótese Psico-Social (ou Psicossocial), HPS, que busca explicar o Fenômeno Ufo (ou ao menos alguns aspectos) em determinados termos, um elemento surgiu subitamente enquanto lia uma crônica do escritor portoalegrense Augusto Meyer, diretor e grande impulsionador do Instituto Nacional do Livro, no Rio de Janeiro, durante os anos de 1940. A crônica se chama Cinema insônia, publicada em seu livro de memórias No Tempo da Flor (Edições O Cruzeiro, 1966). Nela, deparei-me com a menção a um personagem de um outro escritor, muito mais famoso, o francês Vitor Hugo (ilustração ao lado). Meyer menciona o personagem Jean Valjean, protagonista do maravilhoso Os Miseráveis, originalmente publicada em 1832.

Revolvendo minhas próprias memórias, veio-me todo o gosto da leitura de Os Miseráveis, feita já se vão uns 20 anos. Mas além do ambiente em que eu estava envolto naqueles tempos e as evocações que o livro produzia durante os vários dias que eu fiquei "grudado" no volumoso e gasto volume, outra associação me pinicava: o nome do personagem de Vitor Hugo: "Mas eu já ouvi isso de uma outra forma também", cismava...

Sim! Jan Val Ellam, o pseudônimo ou personagem ou persona mediúnica profetizador da volta de Cristo a bordo de naves gigantescas que se postariam na estratosfera terrestre em 2007, para a comoção mundial! Seria maravilhoso! Mas mostrou-se uma impostura e mais um elemento para desacreditar em tais profetices, que tanto (des)caracterizam a Ufologia. Claro que seguiu-se ao vexame, ao malogro acachapante da previsão, muitas explicações. Como já foi dito, “costumamos inventar histórias para nós mesmos para dormirmos em paz com nossas consciências atormentadas”.

Bem, mas a questão é a seguinte: a enorme semelhança entre as duas denominações dos personagens: “Jean Valjean”, de Vitor Hugo (autor nascido em 1802), e “Jan Val Ellam”, de Rogério de Almeida Freitas (1959). São somente algumas mudanças em letras. O som das palavras e configuração dos nomes nos leva a uma arrasadora conclusão: Trata-se de um processo de plágio. Claro que não necessariamente consciente ou deliberado, mas muito evidente. Vemos o quão humanizada é uma criatura concebida como extra-humana. Tanta semelhança não é um acaso, mesmo que não seja uma arbitrariedade planejada, como já foi dito. Dá um “efeito”, uma “credibilidade”, aproveitando-se de algo que já é do domínio coletivo.

Óbvio: também não faltará algum tipo de elaboração discursiva para “explicar” a “escolha” da denominação para o personagem, hoje caído em descrédito – e, para mim, definitivamente, embora a “vontade de acreditar”, como se refere o título e as falas de Fox Mulder em The X-Files: I Want to Believe, seja algo poderoso, arrebatador, que mantém muita gente apegada em quimeras, em improváveis utopias.

Jean Valjean é um personagem clássico e universal da literatura mundial. Protagonista de um romance que teve enorme sucesso desde a sua primeira publicação em 1862, foi (e ainda está sendo) adaptado para teatro (inclusive radionovelas), cinema, sendo objeto de incontáveis estudos, teses, documentários, artigos na imprensa, afora a abordagem nas aulas de literatura e cultura em escolas, cursos universitários, etc. Ou seja, Jean Valjean é uma denominação que “circula” e “atravessa” à cultura e sociedade humanas contemporâneas. E que foi “pescada” para dar lastro a um outro personagem, que acabou se ligando à massa de elementos que compõem a cultura ufológica brasileira e mundial dos últimos anos.

As denominações de seres extraterrestres foi tratada no excelente artigo OVNIs: A Hipótese Psicossocial, de Steven Novella. O autor observa: “É revelador que os aliens não só tenham nomes que soem humanos, mas que a maioria deles tenham nomes que soem europeus. (...) Ao revisar os nomes aliens listados, está bastante claro que eles seguem os estilos lingüísticos das culturas dos alegados contatados”. Assim, não estou falando nenhuma novidade. Com isso, entretanto, espero estar colaborando para que a advertência já tantas vezes feita seja reforçada: Paremos, como ufólogos e simpatizantes da ufologia, de nos auto-implodir, nos auto-sabotar com idéias e posturas de uma apocalípticas que rotineiramente se revelam estultices de crentões descolados de evidências repetidas: o mundo não vai acabar e mudar tão cedo assim. Tenhamos tranquilidade e que o bom e velho ceticismo nos guie e guarde do ridículo...



***No site do Projeto Orbum é dito que “Jan Val Ellam é o pseudônimo de Rogério de Almeida Freitas. A escolha do pseudônimo deve-se a nomes que expressam páginas do passado espiritual do autor terreno das obras (...). Durante uma entrevista, perguntaram-lhe por que não dizia ser ele mesmo o autor de seus livros? Resposta: ‘poderia dizer simplesmente que sou eu mesmo o real autor disso tudo, mas, estaria faltando com a verdade. Na hora em que tento explicá-la, complico mais ainda a história, pois tenho que me referir aos reais autores intelectuais, ou seja, espíritos desencarnados e extraterrestres (...)’." Em http://orbum.org/index.php?option=com_content&view=article&id=5&Itemid=6


***Pra quem quiser detalhes sobre o romance e o personagem, segue abaixo alguns dados retirados da Wikipédia. Recomendo que leiam todo o artigo em http://pt.wikipedia.org/wiki/Les_Mis%C3%A9rables

Os Miseráveis

Os Miseráveis (Les misérables) é uma das principais obras escritas pelo escritor francês Victor Hugo, publicada em 3 de abril de 1862 simultaneamente em Leipzig, Bruxelas, Budapeste, Milão, Roterdã, Varsóvia, Rio de Janeiro e Paris, nesta última cidade foram vendidos 7 mil exemplares em 24 horas. Victor Hugo é também autor de Os Trabalhadores do mar e O Corcunda de Notre Dame, entre outras obras.

O romance narra a situação política e social francesa no período da Insurreição Democrática ou Revolução de 1830, em 5 de junho de 1832, no reinado de Luís Filipe I de França, através da história de Jean Valjean.

Jean Valjean

Jean Valjean (também conhecido como Monsieur Madeleine e Ultime Fauchelevent) é um homem pobre (antes jardineiro e lavrador), um tanto rude e ignorante, mas de bom coração. Seus pais morreram quando ainda era uma criança (seu pai caiu de uma árvore e sua mãe morreu de uma febre), o que fez com que sua irmã mais velha cuidasse dele. Quando o cunhado morre, assume o cuidado da família da irmã. A família vive miseravelmente, mesmo trabalhando dia e noite. Como os sobrinhos passam fome, Jean Valjean rouba uma padaria para alimentá-los, mas é preso. Assim, é condenado a 5 anos de prisão por roubar um pedaço de pão (pena agravada por possuir uma arma de caça), que acabam se convertendo em 19 anos de prisão, devido as sucessivas tentativas de fuga. Na prisão, revolta-se contra a sociedade que lhe puniu tão gravemente por uma pena tão pequena e planeja vingança contra esta, tornando-se um homem mau e duro. Para tal empresa, aprende a ler, a escrever e a calcular. Ao sair das galés, em liberdade condicional, percebe que nunca será aceito na sociedade. Rejeitado como ex-prisioneiro o Bispo Myriel muda o rumo de sua vida. Assume então uma nova identidade para seguir uma vida honesta. Através de bondade, esforço e inteligência, torna-se um industrial, acumula fortuna e torna-se maire. Em busca de resignação por dua vida passada, e através da influência que a impressão do Bispo lhe traz, torna-se extrememnte caridoso, bom e simples, mesmo possuindo muito dinheiro. Adota e cria a filha de Fantine, Cosette, como se fosse sua própria filha. Morre velho, com mais de 80 anos.


***Na Wikipédia há também um artigo sobre Jan Val Ellan, que me pareceu muito interessante (http://pt.wikipedia.org/wiki/Jan_Val_Ellam), embora esteja indicado que faltam maiores referências sobre fontes que embasem o texto.

Jan Val Ellam

Jan Val Ellam é o pseudônimo usado pelo escritor natalense Rogério de Almeida Freitas (1959-) para escrever sobre pontos de convergência entre o pensamento cristão, a doutrina de Allan Kardec e pesquisas relacionadas à ufologia, no bojo do discurso do espiritualismo universalista e da cidadania planetária.


***Segue abaixo a parte do artigo onde é mencionado aspectos sobre a denominações dos aliens: OVNIs: A Hipótese Psicossocial, de Steven Novella, MD – em The New England Journal of Skepticism, vol., 3 nº 4 (2000):

(...) Os aliens às vezes têm até nomes. Nomes alienígenas deveriam ser alienígenas, e provavelmente não se assemelhariam a nenhuma língua humana. Alguns dos nomes listados são obviamente traduções ao inglês, mas a maioria dos outros são simplesmente nomes. É revelador que os aliens não só tenham nomes que soem humanos, mas que a maioria deles tenham nomes que soem europeus. Ainda, aqueles encontrados por pessoas de culturas hispânicas têm nomes que soam hispânicos. Eles nem mesmo são tão diferentes da estrutura fonética européia quanto os nomes de humanos de outras culturas, como a asiática ou africana. Nomes verdadeiramente aliens deveriam ser mais diferentes de qualquer idioma humano que quaisquer dois idiomas humanos são um do outro.

Para analisar isto um pouco mais, todos os idiomas têm uma certa estrutura fonética, consoantes que são mais comuns que outras, uma certa relação de consoantes para vogais, fonemas únicos, inflexões características e colocação de sílabas tônicas. Estes elementos compõem o caráter de um idioma, como o idioma soa ao ouvido. Por isso é possível e até mesmo fácil reconhecer um idioma que alguém esteja imitando mesmo que esteja falando baboseira e inventando palavras.

Escritores de ficção especulativa (ficção científica e fantasia) às vezes encaram o desafio de inventar culturas alienígenas, incluindo idiomas. Uma das armadilhas desta empreitada é dar nomes aos aliens que sigam as características lingüísticas de sua língua nativa (como Xenu, o Senhor alienígena inventado pelo escritor de ficção científica L. Ron Hubbard para sua religião fabricada, a Cientologia). Escritores experientes tentarão manipular os elementos específicos do idioma para criar nomes com um som genuinamente alienígena. O preço de não fazer isto será criar nomes que soam tolos com um aspecto caipira de ficção científica dos anos 50 ("Klaatu Barada Nikto"). Ao revisar os nomes aliens listados, está bastante claro que eles seguem os estilos lingüísticos das culturas dos alegados contatados. Até hoje, nenhum idioma ou nome verdadeiramente alien resultou de um alegado contato alienígena. Novamente, nós vemos uma falta de descontinuidade e a influência de antecedentes culturais. (...)