6 de jul. de 2011

Aviões agrícolas em Linha Santa Cruz: nem anjos e nem demônios


Mais uma vez, muito bacana a mobilização comunitária em torno da instalação de uma empresa de aviação agrícola no Bairro Linha Santa Cruz. Principalmente pelo seu aspecto geral, de contrariedade a intoxicações por químicos agrícolas, chamando a atenção de todos para os cuidados com o meio ambiente. Mas...


Confesso que já fui bem mais ferrenho “anti-agrotóxico”. Continuo com minhas restrições e preferindo sempre produtos orgânicos e uma agricultura ecologicamente correta. Sou até entusiasta de técnicas como a biodinâmicas, que têm uma outra abordagem sobre o solo, a vida vegetal e animal e suas correlações com o ser humano, o planeta e o sistema cósmico. Mas também observo que a indústria agro-química – até por pressão, e não por alguma consciência ambientalista súbita – já está tendo cuidados ambientais e cada vez mais direciona-se para a fabricação de produtos menos contaminantes do solo e das pessoas (de composição biodegradáveis, com menor toxidade e permanência no ecossistema etc.) – assim como deve e está acontecendo com todos os produtos fabricados e atividades humanas no planeta (e até fora dele!).

Em tese, a empresa de aviação agrícola que quer se instalar no aeroporto precisa ter todas as prevenções legais e licenciamentos dos órgãos competentes (e receber as devidas fiscalizações), além da responsabilidade social inerente a uma atividade do tipo, com tantos riscos. A mesma coisa deve ocorrer, por exemplo, com transportadoras de combustíveis. Caminhões-tanques contendo milhares de litros passam semanalmente por nosso bairro. Pressupomos que são empresas idôneas, licenciadas devidamente, sendo os veículos seguros e obedecendo todas as normas legais para evitar um acidente e consequente contaminação do solo pelo vazamentos de gasolina, álcool combustível, óleo diesel etc. – produtos altamente tóxicos e de uso poluente em nossos veículos (pelo escapamento do motor e vazamentos). Mas ninguém está pedimos o fechamento do Posto Wenzel (ou daquele que se localiza próximo a Linha Nova, além dos de Monte Alverne) por conta de um possível acidente com os depósitos e transporte dos líquidos inflamáveis; nem somos contrários aos veículos, oficinas, fábricas e revendas – mas somos favoráveis ao uso de bicicletas, por exemplo, e a criação de carros cada vez menos poluentes e de todos os cuidados para evitar acidentes e contaminações no transporte rodoviário, armazenamento em tanques e abastecimento nos postos.


Tenho receio de um certo obscurantismo ou “ideologização” do que é uma questão importante e causa justíssima. Por conta de um sectarismo do tipo “agroquímicos são do mal e então seremos sempre contras”, enxotamos empresas e abominamos técnicas de cultivo perfeitamente aceitáveis de um ponto de vista científico e ambiental. Químicos, engenheiros químicos, engenheiros agrícolas, agrônomos e mais variada e vasta gama de técnicos se dedicam à pesquisa de produtos para a “agricultura industrial”, tornando-a mais eficiente e menos letal. Confio num desenvolvimento ético, respeitando o meio ambiente e responsabilidade social com as gerações – “mesmo” nesta “ceara” da produção com herbicidas, fungicidas, adubos químicos etc. No atual modelo socioeconômicos, que – prevejo – perdurará por muitos anos, a agricultura em grandes extensões existirá e não prescindirá de técnicas agrícolas baseadas na ampla mecanização – como os aviões agrícolas – e insumos químicos.


*O próprio secretário do meio ambiente de Santa Cruz, em entrevista ao Riovale Jornal de 28/06/11, diz que “entende a preocupação dos moradores, mas a empresa possui todos os requisitos necessários para operar”. “Pedimos todos as licenças necessárias e todas atendem as exigências”, incluindo as da Fepam (Fundação de Proteção Ambiental do RS), “um dos órgãos mais exigentes que existe em nosso estado”, completa o secretário. Ou seja, a preocupação e mobilização do grupo é muito válida, mas as autorizações e precauções estão oficialmente atendidas para o funcionamento correto da empresa – assim como deve acontecer com o transporte, abastecimento e armazenamento em Postos de Combustível do bairro e seu entorno, estabelecimentos que trabalham diariamente com produtos tóxicos de alta periculosidade (inflamáveis e poluentes, inclusive).

**O fluxo de aeronaves já é em si algo que se faz com risco – assim como o é o transporte pelas ruas e estradas. Vazamentos de produtos poluentes dos tanques – ou no processo de abastecimento de combustível – e acidentes graves são hipóteses sempre presentes. Então, a instalação de uma linha aérea entre Santa Cruz e Porto Alegre deveria ensejar também uma mobilização... Na verdade, os pequenos e grandes aeroportos que conheço estão em áreas de uma densidade populacional cada vez maior (o Aeroporto Salgado Filho é um exemplo disso, outrora construído em área afastada da aglomeração urbana). Idealmente, deveriam ser construídos e mantidos em áreas com grande limitação de moradia e de outras instalações urbanas.


***Me disseram que a aviação agrícola é uma dos meios mais eficientes em termos econômicos e ambientais para pulverizações em grandes áreas.

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