21 de dez. de 2011

Sobre a morte de um yorkshire


Sou o primeiro a achar que os animais são tratados com crueldade. Eu mesmo, muitas vezes, maltrato o gato que convive com a gente lá em casa, o Maléulo. Deveria ser mais tolerante com os seus hábitos e personalidade. Obviamente, estou longe de torturá-lo.

Quanto a esse abaixo-assinado que está sendo distribuído, pedindo a penalização da assassina de um cão yorkshire em Goiás, fico incomodado pelo seguinte: a super-indignada pessoa assina a petição e à noite vai com a família num rodízio de carnes na churrascaria... Baita hipocrisia! Que sentimento seletivo é esse? Por que alguns animais merecem compaixão, mas outros são mortos massivamente, muitas vezes com tremenda dor e horas e mais horas de estresse e tortura psicológica no “corredor da morte” dos matadouros “humanizados”... Não dá para fingir que isso não acontece, alegar que as pessoas não têm consciência sobre onde estão metidas: comendo pedaços de vísceras de bovinos, suínos, equinos, aves etc. Estão com as mão sujas de sangue, meu!

Certo. Tem diferenças, sim, em “matar para comer” e “torturar por maldade pura”. E acho que há situações onde não há como não comer carne. Somos seres omnívoros; podemos comer de tudo ou ao menos uma vasta lista de produtos. Dizem até que o humano tem um sistema cerebral mais desenvolvido (inclusive mais massa cerebral) que outros símios devido a alimentação múltipla, que incluiu a carne a certa altura do nosso desenvolvimento no planeta.

Os esquimós não sobreviveriam sem comer carne naquele ambiente no extremo polar da Terra “simplesmente” porque não há vegetais suficientes por lá. Mas quando esses nativos das baixíssimas temperaturas matam um animal, aproveitam tudo e comem até o conteúdo dos intestinos do bicho, além de uma atitude reverencial aquele ser sacrificado. Mas quando vamos a um rodízio numa churrascaria, estamos participando de uma comilança (que exigiu uma vasta matança); devoramos uma quantidade de carne supérflua e, costumeiramente, demasiada para o nosso corpo, muito além de nossa necessidade proteica – fora a questão que tal proteína poderia ser obtida de vegetais (feijão, gergelim, nozes, castanha, tofu etc.), de lácteos e ovos (alimentos que não implicam na morte do animal, embora os veganos não aceitariam esse argumento).

Contudo, eu como carne eventualmente. Não quero ficar neurótico com isso – de comer ou não comer carne. Evito muito, quase sempre. O caso é que vivemos numa cultura onde a alimentação carnívora é onipresente e precisaremos de várias gerações para levar a maioria da humanidade a abrir mão desse consumo – ou ao menos reduzir ao indispensável.

*A ilustração acima é divulgação do documentário "Terráqueos" (Erthlings, EUA, 2005), que discute o tema da exploração dos demais animais pelo mamífero humano, onde aparece o termo "especismo", uma espécie de transposição do termo "racismo" para o universo das outras espécies que nós submetemos de diversos modos, incluindo o assassinato em massa. Abaixo, um link para assistir o filme:

http://video.google.com.br/videoplay?docid=-1717800235769991478

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