13 de dez. de 2012

E o papa tuitou

Uma amiga me repassou a notícia:

O papa Bento XVI tuitou pela primeira vez nesta quarta-feira, durante sua audiência semanal, no auditório Paulo VI, no Vaticano. Bento XVI escreveu em seu iPad uma mensagem de saudação aos mais de 670 mil seguidores. "Queridos amigos, estou feliz por entrar em contato com vocês pelo Twitter. Obrigado por sua resposta generosa. Eu abençoo a todos de coração", disse.

Pois até o papa tem conta no Twitter e usa tablets... E com certeza o Vaticano está no Facebook, a grande rede de contatos, informação e interação, que está marcando o século 21 com novas formas de comunicação.

Essa situação sempre me chama a atenção – da Igreja (ou das igrejas) usar (em) a tecnologia. Há uma contradição, me parece. Todo o moderno aparato tecnológico foi construído “apesar” da religião judaico-cristã (entre outras). Física, química, engenharia, biologia etc. não tiveram um livre-desenvolvimento por intervenção de “sacerdotes”. Até hoje, avanços na medicina, como as possibilidades de uso de embriões, é travado por uma visão ortodoxa, da Idade do Bronze, época em que o Velho Testamento foi moldado – por isso são preceitos de tribos patriarcais seminômades das imediações do Mediterrâneo. Estudiosos e pensadores, mesmo cristão, como Giordano Bruno, foram mortos pela sua própria igreja (no caso, pela inquisição - Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício); outros, foram duramente censurados, sob ameaças de tortura e assassinato, caso de Galileu Galilei. E até hoje esse sectarismo violento (virulento, também), anti-liberdade e anticientífico é praticado mais ou menos explicitamente por instituições religiosas e seus “fiéis” exaltados.

Talvez essa adesão a crenças irracionais e antiquadamente preconceituosas – enquanto usufruímos de produtos das engenharias mais sofisticas – seja culpa da nossa alienação em amplo sentido. Vivemos na superfície de tudo. Assim como não sabemos praticamente nada do que existe internamente e como funciona eletronicamente um telefone celular (apenas apertamos os botões na superfície do teclado ou tela), assim também não sabemos praticamente nada sobre as bases históricas, psicológicas e sociológicas da fé em, por exemplo, Nossa Senhora Aparecida. Em plena procissão a Santa, ligamos para nossa avó, para saber se tudo está bem em casa. Em ambos os casos – caminhar num evento que reverencia uma virgem que concebeu imaculada e usar o sistema de telefonia móvel –  o nosso nível de consciência da complexidade envolvida no que está acontecendo é baixíssimo; nossa ignorância – no sentido técnico de falta de conhecimentos – é altíssima. Agimos como macacos puxando alavancas para ganhar uma banana.

Acho que o potencial humano vai muito além de puxar alavancas. Somos analfabetos funcionais na leitura das coisas que nos rodeiam. Precisamos urgente de um “mobral” científico-histórico-filosófico para entender o que de fato está sendo dito; não só assinar o nosso nome em documentos que não sabemos o conteúdo.


***Ao se referir a políticos e burocratas fundamentalistas na cabeça de governos como o do Paquistão, o jornalista Christofer Hitchens, em seu livro “Deus não é grande – como a religião envenena tudo” (Ediouro, 2007), uma denúncia veemente contra o obscurantismo e sectarismo religiosos, diz o seguinte:

“É uma ironia trágica e potencialmente letal que aqueles que mais desprezam a ciência e o método de livre investigação tenham sido capazes de surrupia-lo e incorporar os produtos sofisticados dele a seus sonhos doentios [de morte e destruição em massa].”

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