22 de mar. de 2013

Somos animais - não mais nem menos do que animais


“Acima de tudo, deve-se salientar que não há nada de insultante em olhar as pessoas como animais. Afinal de contas, SOMOS animais. O Homo sapiens é uma espécie de primata, um fenômeno biológico dominado por regras biológicas, como qualquer outra espécie. A natureza humana não é mais do que um tipo particular de natureza animal. De acordo, a espécie humana é um animal extraordinário; mas todas as outras espécies também são animais extraordinários, cada uma à sua maneira, e o observador científico de homens poderá trazer muitas revelações novas ao estudo dos assuntos humanos se conseguir conservar essa atitude básica de humildade evolucionária.”

Aí está. É o parágrafo final da introdução de  “Manwatching – A field guide to human behaviour” (traduzido no Brasil como “Você – Um estudo objetivo do comportamento humano” ”, editora Círculo do Livro S.A., São Paulo, 1977), do zoólogo britânico Desmond Morris (na foto acima, autor também do “O Macaco Nu”, obra bem mais afamada). As palavras mencionam uma perspectiva que tem me empolgado. Primeiro, porque nos “baixa a bola” – não somos mais (nem menos) do que animais. Uma perspectiva zoológiaca ao invés de antropológica (e/ou antropocêntrica) – ou seja, nós, animais, vertebrados, mamíferos, primatas, nos vendo como... animais, e não como algum ser que está acima biologia, “O HOMEM” – em letras maiúsculas e entre aspas, para ressaltar nossa auto-magnificência –, como se estivéssemos fora da condição de ser biológico; como se fôssemos anjos, querubins ou outras figuras míticas – seres que viveriam pairando além de toda a história astrofísica do cosmos e do longíssimo e complexo processo evolutivo, o qual Charles Darwin começou a esboçar, reforçando-se cada vez mais pelos conhecimentos trazidos pela arqueologia, paleontologia, genética, das profundezas das células e, até, dos átomos.

Isso poderia também nos falar dos limites de nossos poderes – o poder de pensar, inclusive. Talvez aí esteja porque imaginamos ETs como humanoides ou, ao menos, na forma de algum tipo de animal. Simplesmente não temos capacidades cognitivas para lidar com outras possibilidades de vida ou inteligência. Apenas montamos o mundo como nossos cérebros conseguem operar – assim como uma criança de cinco anos, em 1970 (é o meu caso), imaginava que as vozes e músicas do rádio eram produzidas por minúsculas pessoas dentro do aparelho receptor (aquela caixinha mágica, com botões, ponteiro, luzes etc.)... São os limites de compreensão, de elaboração mental própria da infância – limites que continuam existindo, em outras medidas e formas, mesmo agora, quando já somos adultos.

Não é nada fácil vencer esse antropocentrismo, essa autoidolatria humana, esse sentido de que somos o centro de tudo, do universo. Difícil, talvez, porque está na nossa própria base genética, como um mecanismo de preservação e reprodução da espécie humana.

19 de mar. de 2013

Reflexões


Acho que existe, sim, um mecanismo básico ou um sistema computacional do ser humano praticamente imutável (ou estabilizado), incontornável. Só “funciona” o que temos condições de “rodar” neste sistema orgânico. A evolução nos moldou assim.

Os sociobiólogos dizem que o que vivemos, hoje, a tal “civilização”, não passa de uma hipertrofia da multimilenar sociedade de caçadores-coletores das savanas, organização social para a qual nossos cérebros foram formatados (e, ao mesmo tempo, formataram), assim como a mão, com seu polegar opositor, própria para desenvolver e manipular as ferramentas que conhecemos, da pedra lascada aos controles dos jatos supersônicos.

Tem um livro que é já lá do final dos anos de 1960, “O Macaco Nu” (a capa de uma edição em inglês ilustra este post), do zoólogo (e popular apresentador de documentários de TV) Desmond Morris. Alguns daqui devem ter lido. Eu só conhecia umas passagens e da fama de best-seller. Pois um exemplar me caiu nas mãos e estou achando muuuito bom –  já que estou nesta fase “biologicista”, curtindo esses novos gurus como o psicólogo Steven Pinker e o geneticista Richard Dawkins.

Verdade, rapaz. Há clássicos em todas as áreas, que a gente deveria ao menos dar uma olhada. Obviamente que tem coisas descartáveis – e colocaria aí todos os textos bíblicos enquanto explicação do universo e da vida (valem como literatura, mitologia, repositório de lendas e “filosofias”). Incrivelmente – e isso é para mim cada vez mais assustador – há uma massa de pessoas que pautam suas vidas nas crendices derivadas da (re-re-re-re...)interpretação de escritos sempre adulterados, iniciados lá na Idade do Bronze, quando trovões eram literalmente interpretados como algo similar a "papai do céu está jogando bolão"...

Falo isso ainda impactado com a bizarrice da procissão do Bastião (pra quem não sabe, São Sebastião, padroeiro dos católicos Venâncio-airenses), que assisti sem querer em janeiro passado, quando íamos tomar um sorvete "italiano" ali no Só Delícia (apertado entre a Fossa do Porco e a Boca do Lobo). Olhei aquela montoeira de gente em fila se deslocando vagarosamente, e disse às minhas meninas, de brincadeira, que a fila para o sorvete estava mesmo muito grande naquele dia... Mas, em certo sentido, era isso mesmo: todos querendo sorver alguma delícia, após o sacrifício de ficar naquela bicha imensa, num calorão dos diabos, alguns de pé-no-chão e asas de anjo (crianças), cantando uns hinos – me perdoem – horrorosos em todos os sentidos.

Claro que sempre soubemos que o que salva o Bastião (a festa) é, em ordem, a galinhada, o pastel, a Fruki guaraná, a cerveja Polar, umas alemoas de short e o ápice da devoção, o Inferninho... Hehe!!

* Acho que para quem não se apega em alguma fé – o acreditar sem questionar –, na medida que o tempo passa, mais faz uso da frase atribuída aos grego Sócrates: "Só sei que nada sei". As certezas vão para as cucuias e a gente desconfia até de si mesmo... Se o cara não entra em “nóias”, acho que dá para chamar isso de Sabedoria. Claro que, várias vezes, vamos ser atropelados pelos "Senhores da Verdade", munidos de versículos bíblicos, teorias new age, máximas de Philip Kotler ou do mais refinado chavão do senso comum.

** Coisas simples, não competitivas, são tão boas: tomar um bom café, andar de bicicleta, observar um árvore... O que pode ser melhor do que vagabundear por aí, com o vento na cara ou dedilhando um violão, mesmo que toscamente? Acho que o que nos mata e adoece é tentar atender a expectativa dos outros, a ansiedade que isso gera no nosso ser. Desde a tenra infância.

11 de mar. de 2013

A façanha de Thor Heyerdahl - a ciência como uma aventura




Vocês já devem ter ouvido falar do cientista-explorador norueguês Thor Heyerdahl. Entre outras façanhas, a mais famosas foi, em 1947, a de ter comandado uma jangada que saiu do Peru até a Polinésia, dando sustentação à evidência de que houve uma migração, via mar, de povos pré-colombianos da América do Sul a arquipélagos em meio ao Oceano Pacífico, caso do Thaiti.

Pois tal feito virou filme, “Kon-Tiki” (nome da embarcação, em referência a um deus Inca) esteve concorrendo ao Oscar. Um treiler está no link abaixo no Youtube:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=rUnmjQJHRP4

Na matéria que saiu no site da revista Ciência Hoje é dito o seguinte, numa separata da matéria:
“Houve um tempo em que ser cientista era, entre outras coisas, lançar-se a temíveis jornadas de exploração. Essa espécie de ciência-aventura era típica nos séculos 18 e 19, tendo perdurado com razoável vigor até princípios do 20 – afinal, a Terra ainda não havia sido inteiramente explorada. Foi a época áurea dos grandes naturalistas, como Alexander von Humboldt (1769-1859), Alfred Wallace (1823-1913), Johann Baptiste von Spix (1781-1826), Carl von Martius (1794-1868), entre tantos outros. Eram homens de saberes ecléticos, representantes de um tempo em que a ciência ainda não havia sido domada pela ditadura epistemológica da fragmentação do saber.”

A matéria inteira, com vários detalhes sobre “o zoólogo, geógrafo e etnógrafo Thor Heyerdahl” pode ser acessada no seguinte endereço:
http://cienciahoje.uol.com.br/blogues/bussola/2013/02/a-epica-travessia-de-thor-heyerdahl

Talvez o filme seja um antídoto ao modo burocrático e comercialesco que boa parte das pesquisas científicas caíram, desestimulando muita gente, jovens, principalmente, que já não vêm aventura alguma em buscar conhecimentos, criar teorias e testar hipóteses.
Além do filme, existe em português o livro “A expedição Kon-Tiki ”, escrita pelo próprio Thor. Pelo que pude ler (e ver pelas fotos), é uma leitura excelente.

Fica a dica de pesquisa, filme e livro.

* Nas imagens (divulgação) em anexo, Thor datilografando a bordo da jangada, e o Kon-Tiki navegando no Pacífico, com a tripulação e apetrechos.

** Thor foi, mesmo, um “cientista a moda antiga”, quando buscar o conhecimento era uma aventura que envolvia as “entranhas” e um amplo saber, além de uma imensa curiosidade, antes de tudo, aliás.

*** Outros complementos:

Mestres com os pés no mundo e cabeças ousadas

Aproveitando uma troca de e-mail com os mestres Rafa Amorim e Nelson, compartilho também com vocês a minha empolgação, continuando minhas pesquisas sobre a vida e as expedições do norueguês Thor Heyerdhal.

É algo de um fascínio sem fim. Seis amigos, numa jangada feita totalmente de toras, taquaras, cipós, folhas de palmeira tenham, durante mais de 100 dias, atravessado da costa do Peru à Polinésia, tudo para mostrar a viabilidade da teoria do povoamento de nativos sul-americanos, que, com sua tecnologia de navegação – aparentemente rústica, extremamente eficiente –, conseguiram navegar milhares de quilômetros mar adentro, num período que recém se saía da traumática 2ª Guerra Mundial. Thor estava contrariando a ideia vigente de que a região do Taiti teria sido colonizada por asiáticos, jamais por peruanos pré-colombianos. O sucesso da travessia abalou fortemente convicções.

A aventura não foi só a transposição oceânica em si, mas a organização de uma empreitada daquela envergadura e ousadia, que começa como uma ideia que muitos consideraram estapafúrdia, totalmente insana, uma temeridade, um atirar-se à morte certa e sem sentido.

Na Wikipédia, falando sobre o falecimento de Thor, anotaram assim:

“Thor Heyerdahl morreu em 18 de abril de 2002 em sua casa na Itália depois de 87 anos dedicando sua vida às descobertas dos enigmas da humanidade.”

Poxa! Uma vida dedicada aos “enigmas da humanidade”. Não é algo fantástico? Poder devotar uma longa vida a buscar entender os mistérios que nos rodeiam – e nos compõem enquanto seres indagadores, imersos numa complexidade avassaladora.

Thor Heyerdahl é alguém para se admirar e tratar como um verdadeiro mestre – sem mistificação, sem se ajoelhar; um mestre que estimula a usar toda a nossa habilidade humana para raciocinar, refletir, intuir, se emocionar e “fazer acontecer”.


A pergunta não é como ter sorte
Triste é a pessoa perder a curiosidade – aquele impulso infantil de querer saber tudo, temperado, na adultez, pela experiência e prudência que evitam circunlóquios e armadilhas piores. Uma lástima que tantas coisas nos prendam em nossa pacatice. Acho que Thor Heyerdahl, por uma série de circunstâncias, escapou do ordinário, e viveu uma vida extraordinária em seu pleno significado.

Na busca de informações do nosso “amigo”, achei aqui na biblioteca da universidade a sua autobiografia “Na Trilha de Adão: memórias de um filósofo da aventura”, editada pela Companhia das Letras em 2000.

É um livro muito interessante, porque, acaba por ser um síntese de todas as empreitadas do norueguês, além de trazer muitos detalhes da sua vida e do mundo onde viveu, ou seja, praticamente o século XX.

Ainda estou lendo-o. Na página 22: ao cometerem que ele ter sido uma pessoa de sorte, Thor anota: “A pergunta não é como ter sorte, mas como evitar a falta dela.”

Somos Homo sapiens antes dos livros

Sobre A importância relativa dos nossos amados livros...


Ou para não esquecer que há coisas bem anteriores, muito mais fundamentais para a existência humana do que a leitura...


Recebi de uma colega uma artigo que falava das novas tecnologia e hábitos de leitura, especialmente com a chegada da informática e, hoje, de dispositivos como e-readers, palms e tablets. Muito bacana o texto (http://biblioo.info/o-livro-e-o-leitor/). Nos coloca uma linha histórica. E aí a gente percebe que poderemos nos sentir nostálgicos em relação as brochuras (“livros de papel”) diante dos e-readers, assim como os monges copistas ou filósofos antigos provavelmente suspiraram em relação aos seus amados manuscritos defrontando-se com a revolução do novo formato e popularização derivados inaugurada pelo sistema de impressão de Gutenberg no século XIII...

Viajando mais um pouco: E se a gente pensar na história do ser humano, ou do Homo sapiens, que vai aos milhões de anos se considerarmos a evolução da espécie desde o Australopitecus (poderíamos retroceder ainda mais), se pode dizer que a relação com materiais escritos ou, mesmo, os desenhos nas paredes de cavernas, vamos até uns 30 mil anos. Levando em conta a escrita em placas de cerâmica, madeira, couro, papiros e papel, aí é algo ainda mais curto: talvez sete mil anos atrás. Há 10 mil anos a agricultura e a domesticação de animais iniciou pra valer, segundo os estudos arqueológicos e paleontológicos. Até ali, fomos, por 200 mil anos, povos caçadores-coletores, usando-se de nossa estrutura cérebro-corporal para sobreviver e desenvolver culturas -- línguas, normas, tecnologias para a sobrevivência/convívio. Ou seja, numa escala maior de tempo, a nossa relação com a leitura – um subproduto, provavelmente, originado do potencial humano para a localização e decifração de padrões, fundamental para nossa sobrevivência física enquanto um ramo dos primatas –, é um piscar de olhos...

Pois é. Parece muito tempo, mas livros são um objeto muuuuito novo na trajetória humana. Por longo, longo, longuíssimo período nos viramos com a oralidade, com a transmissão boca-a-boca (literalmente) e por outros artefatos para nos comunicar, registar e expressar nossas vidas. Na escala de tempo, biológica e socialmente falando, enquanto humanos, fomos 99% do tempo ágrafos... E de onde estamos, em meio a estantes enormes de pesados livros e a infinidade espantosa de textos acessíveis via internet, não é fácil nem tranquilo perceber objetivamente a importância relativamente pequena da escrita, da leitura, e, consequentemente, dos nossos amados/sagrados livros... (A linguagem não verbal, dos inúmeros gestos e manifestações corporais, alguns inatos, outros desenvolvidos nas culturas, por exemplo, foi e continua sendo imensamente importantes e antecedendo muitíssimo na comunicação humana o uso de palavras, que dirá dos escritos.)

Entretanto, com certeza a escrita é algo revolucionário, como bem disse Carl Sagan ("O mundo assombrado por demônios") e uma habilidade indispensável para sobreviver no mundo contemporâneo. Mas sem esquecer que, até o surgimento da escrita, inúmeras revoluções evolutivas fundamentais do ser humano ocorreram, sem as quais, estaríamos ainda mais próximos dos nossos primos chipanzés e bonobos – seres cuja inteligência, capacidade de expressão e organização social não são nada desprezíveis; na verdade, se assemelham muitos conosco, já que compartilhamos a mesma origem animal; mínimos detalhes em nossa composição genética nos alçaram, no processo evolutivo, a uma condição sui generis entre os símios.

Tudo isso, me desculpem a xaropada pedante, deriva especialmente de, vejam... LIVROS! que estou lendo aos poucos (e aproveitei as férias para dar uma acelerada), até porque têm desajustado várias de minhas "tradicionais" concepções. É o caso de "Eu, primata", de Frans Wall, e "O macaco nu", de Desmond Morris, ambos zoólogos e especialista renomadíssimos em etologia, que, simplificadamente, é “o estudo do comportamento animal”. Entram neste time outros caras, caso do "formigólogo" Edward Wilson (que pode ser considerado fundador da sociobiologia) e o psicólogo e linguista Steven Pinker, além de caras como o jornalista Cristopher Hitchens e outro biólogo, o geneticista - enfant terrible das religiões - Richard Dawkins.

O helicóptero e o Papa rumo ao seu castelo de verão...



O papa se despede e parte dos palacetes do Vaticano em um super helicóptero das Forças Armadas italianas (foto acima) para passar alguns meses descansando em Castel Gandolfo, um lugar paradisíaco, “residência de verão dos pontífices”, de arquitetura clássica, decoração primorosa, com grande estafe de serviçais  e uma vista de tirar o fôlego. Toda manobra de deslocamento foi feita dentro de uma logística milimétrica, com um aparato de segurança que movimentou centenas de pessoas altamente treinadas e prontas para abater qualquer um que tivesse loucura suficiente para tentar qualquer agressão ao ex-representante de Deus na Terra...

Mas não é só esses fatos ostentatórios que entram em choque com a instituição que pretende ser a mais antiga, a mais legítima e digna representante de um pobríssimo aprendiz de carpinteiro e seus rudes apóstolos pescadores, iniciadores de uma nova seita judia, que passou a ser conhecida como cristianismo. Todos parecem ter sido paupérrimos a vida inteira, até a hora de suas terríveis mortes, como dão a entender os Evangelhos. O uso do caríssimo helicóptero também é uma contradição para uma instituição que por quase dois milênios tentou/tenta sufocar o pensamento científico, em nome de seu dogmatismo e, mais que isso, pelo controle do poder sobre as mentes e corpos do rebanho humano... Óbvio que chega a certa altura e a Igreja acaba se rendendo, “aderindo” aos avanços tecnológicos, sem abrir mão do seu inerente obscurantismo anticientífico. O uso do helicóptero é um dos muitos exemplos.

É notório que muitíssimos avanços se deram “apesar” da feroz oposição da Igreja ao pensamento livre, à especulação que foge das interpretações oficiais da geriatria machocêntria, ao patriarcalismo que controla algo, observem, fundado por jovens contestadores (Jesus morre no auge dos 33 anos – e os apóstolos, se pode supor, tinham idades em torno disso quando aderiram às ideias de Jesus). Entretanto, um Papa só poderá ter em torno de 70 anos e toda a hierarquia maior está bem além dos 50 anos de vida. Não é só as mulheres que são vetadas radicalmente nos cargos de poder da Igreja; os jovens também estão fora das grandes decisões católicas – são tratadas como seres abestalhados, sem “capacidade suficiente”.

Enfim, para o Papa embarcar no helicóptero e deslocar-se com rapidez, agilidade e segurança até a nababesca propriedade da sua Igreja, muitos pensadores, inventores, filósofos e cientistas foram torturados ou mortos barbaramente, além dos incontáveis que foram calados, amordaçados ou podado antes mesmo de desenvolverem seus potenciais por conta da violência sectária do poder católico. Todas essa repressão cruel, sofrimentos e mortes não parecem constranger o Papa, aboletado no poderoso modelo de aeronave, rumo às férias...

Infelizmente, tais reflexões e tais contradições não são levantadas – nem pelo pontífice e, muito menos, pela maioria de nós, pobres mortais. Como vivemos alienados, sem consciência dos meandros das coisas; até mesmo sem vontade de saber, de conhecer; sem curiosidade em amplo sentido; além de sedentos de acalentos que nos poupem das verdades cruéis do mundo real e do abismo da morte física; como vivemos assim, na superfície das coisas e encagaçados, nos tornamos refratários a qualquer ameaça às recompensas dadas pelas “certezas” de igrejas e instituições assemelhadas. Crer, sem questionar, é, mesmo, bem mais fácil, como diz o psicólogo Michael Shermer.


***Comentário complementar: Eu também fui criado católico, com batismo, comunhão e crisma. No final da adolescência, já estava renegando... Minhas duas filhas não são batizadas em igreja alguma e, ao menos isso, vou deixá-las livres para escolher se aderem ou não a alguma igreja. Aliás, para as mulheres, a Igreja Católica é um lugar "pouco amigável", pela posição subalterna que são colocadas, submetidas a um “papa”, onde jamais haverá uma “mama”; onde não podem rezar missa, apenas ser serviçais em alguma clausura, como freiras ou monjas, sob o comando superior de bispos, cardeais etc. O patriarcalismo em sua pior faceta. Triste ver que tal ideologia obscura e opressora da Idade Média ainda perdure com força, embora haja algumas resistências internas na própria Igreja.