25 de out. de 2013

“O assassino de Deus estava a bordo”


Um comentário sobre a expedição de Charles Darwin no navio Beagle, nos anos 30 do século XIX, a partir de uma reportagem


Semana passada, ainda em minhas leituras sobre o naturalista Charles Darwin, achei uma matéria na Superinteressante de junho de 2007, alusiva aos 150 anos da teoria da evolução.

No parágrafo de abertura, os jornalistas Alexandre Versignassi e Rodrigo Rezende escrevem:

“E Charles Darwin criou o homem. Ou, pelo menos, inventou o que hoje nós conhecemos como homem. Antes dele, éramos o centro do Universo, a obra sublime da criação. Agora somos apenas mais uma entre milhões e milhões de espécies, um bicho de origem nada especial.”

Uma molécula está na base do surgimento de toda a vida orgânica no planeta Terra. É um processo tão longo, que fica difícil ser pensado por nossa mente limitada retroceder. Quem consegue imaginar uma escala de 4 bilhões de anos, quando, estima-se, a formação desta molécula mal iniciou? O big-bang ficaria ainda mais inacessível para nossa pobre cognição: 13,7 bilhões de anos.

Algo foi decisivo para Darwin desenvolver as suas observações e raciocínios. Ele - “o assassino de Deus” - viajou por quase cinco anos no navio Beagle, cujo objetivo primeiro era mapear a costa da Patagônia, custeado pelo governo britânico. O capitão Robert FitzRoy teria escolhido Darwin, naquela altura um rapaz de 22 anos, pelo formato do seu nariz: “sinalizava profundidade de caráter”, cita-se na reportagem da Super, como palavras do coordenador da embarcação e da expedição.

A “morte de Deus” decretada pelo evolucionismo proposto por Darwin, exposto em livros como “A Origem das espécies” e “A Origem do homem”, tem ligações com um arquipélago, que ele visitou e analisou em pormenores a partir de 1835, quando o navio atracou no “inferno”, outra expressão da capitão Fitz Roy para aquelas paragens em meio ao Oceano Pacífico, a mil quilômetros da costa do Equador:

“O gatilho para esse pensamento veio quando ele percebeu diferenças instigantes entre os bicos de uma espécie de passarinho das Galápagos, os tentilhões. Em uma ilha eles tinham bicos grossos, bons para quebrar nozes. Em outra, longos e finos, ideais para arranjar comida em frestas. Darwin imaginou que aquelas aves deviam ter se adaptado de algum jeito. Por mágica? Não: por um processo de seleção que levou gerações. Em ambas as ilhas teriam nascido pássaros de bico fino e de bico grosso. Naquela onde havia nozes para comer, só estes últimos teriam sobrevivido.”

Versignasse e Rezende arrematam: “A partir desse raciocínio simples, nascia um monstro” – “a ideia mais poderosa de todos os tempos”, está dito no sumário.

“Darwin descobriu como a vida pode existir sem a intervenção divina”, sintetiza-se no título na capa desta Superinteressante. Deus estava dispensado e, na verdade, estava atrapalhava o entendimento da existência da vida. Entretanto, alguns ainda choram a perda, insistindo no mito patriarcal – do pai que tudo criou nos mais mínimos detalhes, e vigia ferozmente, como um leão o faz com suas fêmeas e filhotes na savana africana.

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